Josias de Souza

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Opinião

Lira cutuca a rua com aborto e, mordido pela sociedade, recua

Ao se aliar à banda fundamentalista do Legislativo para aprovar a tramitação urgente de um projeto antiaborto, Arthur Lira cutucou as ruas com o pé para ver se a sociedade mordia. Mastigado no asfalto e nas redes sociais, o chefão da Câmara viu-se compelido a dar meia-volta. Adiou para o segundo semestre a análise do mérito da proposta que converte em homicídio modalidades de aborto previstas em lei, inclusive nos casos de estupro.

Submetida à pressão social, a pressa perdeu as pernas. Lira declarou que "o colégio de líderes aceitou debater este tema, de forma ampla, no segundo semestre, com uma comissão colaborativa, após o recesso, sem pressa ou açodamento."

Ao comentar a proposta que impõe às estupradas pena de prisão maior do que a dos estupradores, o chefão da Câmara declarou que "nada neste projeto vai retroagir nos direitos já garantidos e nada vai avançar que traga qualquer dano às mulheres." Hummmm...

Ao formalizar o recuo, Lira soou como ex-Lira. "Temos o compromisso de nunca votar um tema importante sem amplo debate. Sempre foi assim nesta Casa. É fundamental para exaurir todas as discussões e criar segurança jurídica, moral e científica." Heimmm?!?!?

Na semana passada, quando Arthur ainda era Lira, presidiu a sessão em que a urgência para a proposta antiaborto foi aprovada em 22 segundos. Passou sem que o requerimento fosse formalmente anunciado. Foram para o beleléu o debate e os os discursos de encaminhamento dos líderes. A votação nominal foi substituída por uma aprovação simbólica, sem digitais no painel eletrônico.

Sob Lira, a Câmara sempre operou como uma espécie de monarquia. Nela, reina a esculhambação. Surpreendido pelo desgaste, o rei Arthur converteu-se num humilde servo da coletividade. "Somos uma Casa de 513 parlamentares. Qualquer decisão é colegiada." Hã, hã...

Mesmo quem não entende de política consegue enxergar a politicagem. O adiamento da votação do mérito do projeto antiaborto não resolve o problema. Propostas anencéfalas devem ser abortadas. Não merecem o desperdício de uma gestação.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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