Josias de Souza

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Opinião

Trump pós-atentado é o mesmo populista messiânico de sempre

No discurso de encerramento da Convenção Nacional Republicana, Donald Trump exercitou sua moderação pós-atentado com uma teatralidade radical. Acenou para a unidade nacional. Flertou com a pacificação. Ao final de 93 minutos de fala, o que seria um bem-vindo comedimento revelou-se mero enfeite. O tiro na orelha produziu um novo velho Trump, cultor do messianismo em benefício próprio.

No aceno à união, Trump disse que deseja retornar à Casa Branca "para ser presidente de todos os Estados Unidos, não de metade do país, porque não há vitória em vencer para metade dos Estados Unidos." No trecho em que flertou com um armistício, declarou: "Se você me apoiou ou não no passado, junte-se a mim para desfrutarmos juntos do novo sonho americano."

Num trecho do discurso, Trump afirmou que é hora de acabar com "a discórdia e a divisão". Antes que alguém pudesse imaginar que abandonou o estilo "vai ou racha", fantasiou-se de vítima e esclareceu que voltará a presidir os Estados Unidos de qualquer jeito. Mesmo que rachado.

"Se os democratas querem unificar o nosso país, devem abandonar esta caça às bruxas partidária, que tenho vivido há aproximadamente oito anos", declarou Trump. "E devem fazê-lo sem demora... Vamos vencer de qualquer maneira."

Líderes populistas cultivam a fantasia da excepcionalidade. Trump extrapola. "Não era para eu estar aqui na noite de hoje", declarou, ao longo dos 20 minutos que dedicou à reconstituição da tentativa de assassinato que sofreu. "Estou diante de vocês pela graça de nosso Deus."

Como de costume, Trump mentiu e tergiversou à farta. Repisou a defesa da deportação em massa de imigrantes. Chamou de "louca" a antagonista Nancy Pelosi, uma das vozes democratas que se ergueram para condenar o atentado que sofreu. Foi aplaudido efusivamente.

Os devotos estão ainda mais dispostos a engolir todas as presunções da divindade laranja a seu próprio respeito. Isso inclui aceitar a tese segundo a qual Trump escapou da morte para desempenhar uma missão que, por ser divina, é indiscutível.

Não bastasse a presunção de que o destino evangelizador dispensa Trump de tudo, inclusive de dar explicações, a única novidade na campanha adversária é que alguns dos principais jornais americanos informam que Joe Biden, entre um esquecimento e outro, talvez se lembre de renunciar à própria candidatura durante o final de semana.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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