Datena faz autocrítica pela metade
O problema da expiação dos pecados é que ela costuma chegar tarde. No caso de José Luiz Datena, a autocrítica chegou rápido. Mas veio pela metade.
Em mensagem postada num grupo de WhatsApp do PSDB, o neotucano anotou que seu desempenho no debate da TV Bandeirantes foi "muito abaixo da expectativa".
Datena anotou: "Me atrapalhei com as regras e tempo de relógio, isso é fato". Verdade. Mas Datena não tropeçou apenas na forma. Enrolou-se no conteúdo.
Apresentando-se como alternativa à polarização, Datena foi incapaz de expor propostas que pavimentassem a "terceira via". Despreparado, gaguejou.
Rasas, algumas das poucas ideias expostas por Datena, como a "infância com alimentação" ou a "escola feliz e integrada", podem ser atravessadas por uma formiga com água pelas canelas.
O apresentador decepcionou também no papel de franco-atirador. Foi oportunista ao sugerir que Guilherme Boulos deveria disputar a prefeitura de Caracas.
Ao fustigar Ricardo Nunes, cujos calcanhares são de vidro, derrapou na imprecisão. Virou uma espécie de sub-Marçal. Tomou um contragolpe indesmentível: "Esse senhor já foi condenado várias vezes por imputar crimes a pessoas inocentes."
Desestabilizado emocionalmente, Datena descambou para o exagero, insinuando que o prefeito integra o PCC: "Não tenho medo de gente como você, que beira a acusação grave de pertencer a organizações que estão resvalando o crime organizado dessa cidade."
Nesse contexto, resta a Datena converter o relógio de inimigo em aliado. O apresentador ainda pode se reposicionar em cena.
A campanha começa de fato na próxima sexta-feira, 16 de agosto, data a partir da qual a legislação permite a propaganda eleitoral, inclusive na internet.
Quer dizer: Datena ainda dispõe de tempo. Outros debates virão. Qualificando a sua retórica, entra no jogo. Se insistir no discurso oco, a autocrítica pode evoluir prematuramente para a autopsia.
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