Lula soube de denúncias contra Silvio Almeida antes dos jornais
Lula deveria pendurar no gabinete presidencial tabuleta com uma lição do cantor e compositor Geraldo Vandré: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer". No caso das denúncias de assédio sexual que engolfaram o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos), Lula cometeu um erro que costuma custar caro aos políticos: o presidente da República deixou-se surpreender.
Refutadas por Silvio Almeida, as acusações chegaram à cozinha do Alvorada antes de virar notícia no jornal eletrônico Metrópoles, nesta quinta-feira. A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), apontada como uma das vítimas de assédio, absteve-se de comentar. Nos bastidores, porém, ela já havia conversado sobre o tema com colegas de Esplanada e com a primeira-dama Janja.
Nesta quinta-feira, nas pegadas da explosão do caso, Janja postou no Instragram uma foto na qual beija a testa de Anielle. Simultaneamente, Lula fez por pressão o que não fizera por opção. Mandou divulgar uma nota. Nela, o governo "reconhece a gravidade das denúncias." Promete "rigor" e "celeridade".
A investigação é indispensável e urgente. Lula perdeu a oportunidade de ser célere quando imaginou que, ignorando os fatos, eles desapareceriam. Foi atropelado pelo noticiário e por um comunicado da organização Me Too Brasil. Defensora de mulheres vítimas de violência sexual, a entidade confirmou ter recebido denúncias contra Silvio Almeida —assim mesmo, no plural. Para ser rigoroso, Lula precisaria afastar temporariamente o ministro, até a conclusão das investigações.
Em 2022, quando disputava com Bolsonaro a corrida à Presidência, Lula foi instado a comentar as denúncias de assédio sexual que derrubaram o então presidente da Caixa Econômica Federal, o bolsonarista Pedro Guimarães. Fugiu do tema, alegando que não era "procurador e nem policial". Pegou mal, pegou muito mal.
Três dias depois, discursando num comício em Salvador, Lula se reposicionou em cena: "Como as mulheres foram vítimas de assédio pelo presidente da Caixa Econômica Federal", disse o então candidato, "é preciso que essa gente seja julgada. É preciso que essa gente, depois de apurada e julgada, seja condenada."
Lula já deveria ter aprendido a lição de Vandré: é melhor fazer a hora do que deixar acontecer. Mesmo quando odeia a realidade, um presidente precisa saber que a realidade é o único lugar onde se pode conseguir providências decentes diante de problemas tão graves como a suspeita de assédio sexual.
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