Josias de Souza

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Ironia suprema: Moraes forneceu material para milícia bolsonarista

O contrário do criticismo primário dos superpoderes concedidos a Alexandre de Moraes para combater o golpismo bolsonarista é o comportamento inocente que admite todas as presunções do supermagistrado a seu próprio respeito. Em matéria política judiciária, isso inclui concordar que Moraes, enquanto acumulava as atribuições de presidente da Justiça Eleitoral e relator do inquérito das fake news, tinha uma missão especial na Terra, de inspiração divina e, portanto, indiscutível.

É aterradora a revelação da reportagem da Folha. Com base numa troca de mensagens de WhatsApp, descobriu-se que Moraes usou seu staff no gabinete do Supremo Tribunal Federal para requisitar extraoficialmente relatórios do Tribunal Superior Eleitoral que fundamentaram decisões contra milicianos digitais bolsonaristas no âmbito do inquérito das notícias falsas. Fez isso durante e depois das eleições presidenciais de 2022.

Procurado, o ministro alegou que os procedimentos foram oficiais. Alegação pífia. Já se sabia que Moraes, cultivando seu mito de excepcionalidade, contribuiu para conter o golpismo. Mas é inédita na história do Judiciário brasileiro a pretensão de ser uma potência togada que não deve explicações senão à sua própria noção de superioridade. Menos inédito é o comportamento de magistrado que, trocando os pés pelas mãos, fornece material para que os malfeitores contestem suas supremas decisões.

Bolsonaro e seus cúmplices jogam com o relógio. Apostam que, com o passar do tempo, o golpismo será um assunto chato. Imaginam que, atacando a credibilidade de Moraes, produzirão confusões que lhes permitirão contestar futuras condenações esgrimindo questões processuais semelhantes às que levaram à anulação das sentenças proferidas por Sergio Moro na Lava Jato. Trafegando à margem das regras, Moraes levou água para esse moinho.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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