Lula ornamentou em Nova York evento esvaziado e sem futuro
Foi constrangedor o primeiro evento com a participação de Lula às magens da Assembleia Geral das Nações Unidas, marcada para esta terça-feira. Anunciada como um marco na história da ONU, a Cúpula do Futuro, realizada neste domingo, resultou em fiasco. A presença de Lula foi eclipsada pela ausência dos líderes das grandes potências. Apenas o premiê alemão Olaf Scholz deu as caras.
Exceto pelo fato de que teve o microfone cortado por extrapolar o tempo de cinco minutos, Lula pronunciou um discurso adequado. Reiterou teses que lhe são caras e que, em linhas gerais, estão contidas no Pacto do Futuro, aprovado sob protestos da Rússia e seus aliados. Coisas como emergência climática, reforma do Conselho de Segurança da ONU, modernização do Banco Mundial e do FMI, renegociação da dívida dos países pobres, taxação dos super ricos, combate à fome e regulação das plataformas digitais e segurança global.
O problema não está no diagnóstico, já berm manjado, mas na dosagem da prescrição dos remédios. O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou em timbre pretensioso: "Estamos aqui para tirar o multilateralismo do abismo." O otimismo contrastou com o texto do pacto.
Negociado por quatro anos, o documento foi ficando aguado à medida que a negociação afunilava. Para complicar, não tem poder vinculante. Cumpre quem quer. Representados por subalternos, os líderes mundiais sinalizaram descompromisso com o pacto. Dão de ombros, por exemplo, a reclamação de Lula sobre a insuficiência do financiamento climático. A oposição da Rússia e dos seus satélites, entre eles a Venezuela, deu ao pretendido consenso uma aparência cenográfica.
Caíram no vazio o discurso de Lula e a pretensão de Guterrez, que disse ter convocado a cúpula "porque nosso mundo está saindo dos trilhos." Não se deu conta de que já descarrilou faz tempo.
Não há melhor maneira de prever o futuro do que criá-lo. A vida ensina que a primeira regra dos buracos é singela. Quem cai dentro de um precisa parar de cavar. Se a Cúpula do Futuro serviu para alguma coisa foi para comprovar que o mundo tem dificuldades para retornar à beira do abismo. Pior: Habituado ao precipício, dedica-se a jogar terra em cima.
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