Troca de vaga no TCU por posto na linha de sucessão é zombaria
Numa entrevista à Folha, Arthur Lira confirmou em voz alta o que era apenas sussurado nos subterrâneos. Ao negociar o apoio de sua bancada à candidatura do deputado Hugo Motta para a presidência da Câmara, o PT "solicitou" e obteve o compromisso de indicar um nome para ocupar uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União.
A Constituição prevê no artigo de número 80 que, em caso de impedimento do presidente e do vice-presidente da República, assume o Planato o chefe da Câmara. Quer dizer: No escambo em que se converteu a escolha do substituto de Lira, o Partido dos Trabalhadores se dispõe a trocar o segundo posto na linha de sucessão de Lula por uma poltrona no TCU —sinecura vitalícia com salário mensal de R$ 37 mil, benefícios indiretos, mordomias e aposentadoria integral.
Como de hábito, o processo de sucessão interna da Câmara converteu-se num mercado persa. Barganha-se de tudo, de emendas orçamentárias a cargos na Mesa diretora e nas comissões. A coisa evolui para a zombaria com a inclusão no troca-toca de uma vaga no TCU, onde costumam se aninhar políticos em fim de carreira e apaniguados sem vocação para o ofício de fiscal das contas públicas.
Não há entre os nove ministros do TCU ninguém que esteja na bica de vestir o pijama. Cogita-se nos bastidores convencer o ministro Augusto Nardes, um ex-deputado bolsonarista do PP de Arthur Lira, a antecipar sua aposentadoria. Nardes ganhou o noticiário em novembro de 2022 quando sua voz soou num áudio vadio distribuído pelo WhatsApp para amigos do agronegócio.
Na gravação, Nardes declarou, em timbre golpista, que "está acontecendo um movimento muito forte nas casernas". Previu um "desenlace muito forte", de consequências "imprevisíveis". Afirmou que Bolsonaro "certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país". Na hipótese de o indicado do PT ocupar no TCU a vaga de Nardes, um bolsonarista de vitrine, a zambaria descambaria para o escárnio.
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