Falta compaixão à receita de Tarcísio, o quindim da direita
Alguma coisa está muito errada quando Tarcísio de Freitas avalia que a Polícia Militar de São Paulo está sempre certa. Já se sabia que, em matéria de polícia, o governador fala demais ao avalizar a truculência. Verifica-se agora que cala demais no caso do menino Ryan da Silva, 4, morto em ação policial no Morro São Bento, em Santos. Demora a perceber que seu silêncio adiciona crueldade na inépcia.
Baleado pela polícia na terça-feira, enquanto brincava perto de casa, Ryan foi sepultado na quinta. A mesma polícia que puxou o gatilho virou estorvo de enterro. A PM assediou familiares e amigos com sua presença intimidatória. Agentes vigiaram o velório. Uma viatura bloqueou o cortejo fúnebre. Liberou a passagem de carros e motos sob xingamentos. Outra viatura estacionou na entrada do cemitério.
Tarcísio joga no time que tem como lema Deus, pátria e família. Durante a campanha municipal, foi de igreja em igreja pedir votos pela reeleição de Ricardo Nunes à prefeitura da capital. Mas não ocorreu ao governador a ideia de enviar ao enterro do menino Ryan um oficial da PM para prestar condolências à família.
O governador preferiu elogiar o secretário de Segurança Guiherme Derrite, que na véspera havia acusado de fazer "vitimismo barato" uma deputada estadual que lhe cobrou explicação sobre a morte do menino. Para Tarcísio, o capitão Derrite faz "um trabalho revolucionário" na segurança de São Paulo, "uma referência para todo o Brasil". Nenhum pio sobre a morte de Ryan.
Falta compaixão à receita de Tarcísio, o quindim da direita. Ou o governador faz as pazes com a empatia ou acaba criticado pelos pastores que o apoiam. Senão em respeito ao mais nobre dos Dez Mandamentos —"Não matarás"—, pelo menos em defesa do consumidor. Polícia não foi feita para assassinar moradores inocentes de bairros pobres —nem os que pagam impostos nem os que pagam dízimos.
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