Josias de Souza

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Opinião

Lula passa bem, mas a dor de cabeça do contribuinte perdura

A dor de cabeça que levou o presidente da República à mesa de cirurgia atormentava-o há vários dias. Intensificou-se no início da tarde de segunda-feira. Atingiu o ápice no final do expediente. Deu-se no momento em que Lula negociava com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, chefes da Câmara e do Senado, a liberação das emendas orçamentárias exigidas pelos parlamentares em troca da aprovação do pacote de contenção de despesas do governo. No mesmo horário, a Polícia Federal se equipava para desbaratar quadrilha que se dedica a desviar verbas federais.

Do encontro com Lira e Pacheco, no Planalto, Lula foi para o hospital Sírio-Libanês, em Brasília. Constatada uma hemorragia intracraniana, foi levado às pressas para o Sírio de São Paulo, onde foi submetido, na madrugada desta terça-feira, à cirurgia que drenou o sangramento tardio decorrente da queda que sofrera no banheiro do Alvorada em 19 de outubro. Pela manhã, Lula despertou, lúcido, no leito de uma UTI. Simultaneamente, agentes da PF deflagravam outra operação cirúrgica e bem-sucedida. Cumpriram 17 mandatos de prisão na cidade de Salvador.

Foram em cana operadores de um esquema que desviou verbas federais do Departamento Nacional de Obras contra a Seca, o Dnocs. Coisa de R$ 1,4 bilhão, com superfaturamento de mais de R$ 8 milhões. Entre os alvos está um vereador da cidade baiana de Campo Formoso, Francisquinho Nascimento. É primo do deputado federal Elmar Nascimento, líder do centrão e do União Brasil na Câmara. Antes de ser vereador, Francisquinho foi secretário-executivo da prefeitura do município, comandada pelo prefeito Elmo Nascimento, irmão do deputado Elmar.

Além das prisões preventivas, a PF realizou 47 batidas de busca e apreensão na Bahia, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Apreendeu mais de R$ 1 milhão em dinheiro vivo. Antes de ser preso, o vereador Francisquinho arremessou pela janela uma sacola com R$ 250 mil. Recuperado pelos agentes, o dinheiro voador desce à crônica das emendas como metáfora perfeita dos R$ 50 bilhões o governo joga pela janela anualmente para sustentar o escárnio em que se converteu a apropriação de 24% do Orçamento da União pelo Congresso.

A equipe médica que operou Lula informou que seu quadro clínico evolui muito bem. Sem sequelas neurológicas, o paciente permanecerá na UTI por três dias, em observação. Estima-se que retornará a Brasília na próxima semana. O contribuinte brasileiro não teve a mesma sorte. Continua condenado à dor de cabeça perpétua, pois o governo busca maneiras de contornar as condições de transparência e rastreabilidade impostas pelo Supremo para a liberação de emendas.

Para aprovar o pacote que impõe uma lipoaspiração em despesas sociais, os parlamentares exigem a abertura dos cofres. O sangramento de Lula foi contido, mas a hemorragia das verbas federais continuará escorrendo pelo ladrão.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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