Josias de Souza

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Opinião

Chantagem da anistia saiu pela culatra

Em política, como na vida, jamais se deve contar com os peixes que ainda estão na água. O PL, partido de Bolsonaro, achava que o projeto da anistia para o 8 de janeiro estava no papo. O presidente da Câmara, Hugo Motta, levou o pé à porta. Os líderes do centrão recusaram-se a assinar o requerimento que empurraria a proposta para o plenário a toque de caixa. O bolsonarismo passou a operar na base do vai ou racha. Rachou.

No domingo, Bolsonaro atraiu uma multidão à Paulista. Coisa de 45 mil pessoas segundo o Monitor do Debate Político; 55 mil na conta do Datafolha. Voltou a pedir clemência para uma tentativa de golpe que diz não ter existido. Se não existiu, o caso seria de absolvição. Se houve, como mostrou a Polícia Federal, trata-se de um inusitado pedido de perdão preventivo que terminaria por beneficiar o alto-comando do golpe.

De cima do caminhão de som, o pastor Silas Malafaia disse que Hugo Motta "envergonha o honrado povo da Paraíba", seu estado. Sóstenes Cavalcanti, líder do PL na Câmara, ameaçou convocar os paraibanos às ruas. Prometeu divulgar os nomes dos signatários do pedido de urgência. Deseja deixar expostos na vitrine os traidores da causa da anistia. Ele molha o paletó para obter 257 assinaturas.

A chantagem saiu pela culatra. Deputados conservadores queixaram-se da truculência. De passagem por São Paulo, Hugo Motta sinalizou nesta segunda-feira que não adianta empurrar, porque, na marra, não vai incluir a anistia na pauta de votação. Disse que a Câmara "não é Casa de tema único".

Motta prefere desintoxicar a atmosfera apostando numa articulação que leve o Supremo a rever penas leoninas. De repente, o ato da Paulista, concebido para irradiar a força de Bolsonaro, virou crepúsculo.

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