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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça nega benefício a ex-PCC que ligou da cela para o 190 pedindo ajuda

Orlando Mota Júnior, o Macarrão - Reprodução
Orlando Mota Júnior, o Macarrão Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

12/02/2021 16h09

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A Justiça negou o benefício do regime semiaberto ao preso Orlando Mota Júnior, 48, o Macarrão, criador da "sintonia dos gravatas", o braço jurídico do PCC (Primeiro Comando da Capital), formado por cerca de 40 advogados. Chefes da organização o acusaram de delator, o expulsaram da facção e ainda mandaram matar a mulher dele, segundo as investigações.

Na noite de 2 de novembro de 2009, com uso de telefone celular, Macarrão, de dentro da cela na Penitenciária 1 de Avaré, ligou para o 190 da Polícia Militar e pediu socorro. "Estou ameaçado de morte. Preciso ser transferido", suplicou o prisioneiro.

Na madrugada do dia 3, Macarrão foi removido às pressas e sob forte escolta policial. Às 10h, ele desembarcava na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau. Daquele dia em diante, a vida do preso, que até então gozava de prestígio e era da alta cúpula do PCC, tornou-se um inferno.

Ele foi acusado pelo PCC de delatar mandantes do assassinato do agente penitenciário Denilson Dantas Jerônimo, 36. O crime aconteceu em 3 de maio de 2009 em Álvaro de Carvalho (interior de São Paulo). A Justiça arquivou o processo contra os presos acusados por Macarrão.

Porém, em represália, o PCC ordenou o assassinato da mulher dele, Maria Jucineia da Silva, 41. Ela foi morta a tiros na frente da filha, uma criança, em São José dos Campos, no feriado de 7 de setembro de 2009. O crime chocou até as mulheres dos chefes do PCC, pois todas eram amigas.

Revoltado com o cruel assassinato de Jucineia, Macarrão decidiu colaborar com o MPE (Ministério Público Estadual de São Paulo) e, desde então, passou a ser jurado de morte pelos integrantes da maior organização criminosa do Brasil.

Ele revelou detalhes da "sintonia dos gravatas". Ao menos 40 advogados foram presos e condenados. Homens da alta cúpula do PCC, como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o líder máximo da facção, receberam uma pena de 30 anos.

As delações de Macarrão, entretanto, não lhe renderam benefício. Em dezembro do ano passado, o pedido de progressão para o regime semiaberto foi indeferido pela 2ª Vara das Execuções Criminais de Presidente Prudente.

Segundo consta na decisão judicial, "Macarrão tem longa pena a cumprir, revelando tratar-se de pessoa perigosa, corrompida pelo submundo do crime e nociva à sociedade".

Para a Justiça, o preso "registra a prática de várias faltas disciplinares de natureza grave na prisão, sendo indispensável sua segregação no regime fechado por maior período, visando a necessária e adequada reeducação penal, para depois ter merecimento à progressão de regime mais brando".

Macarrão, apontado pelo MPE como o idealizador do braço jurídico do PCC, hoje não tem defensor particular e é assistido por advogados de uma universidade de Presidente Prudente conveniada à Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Os defensores de Macarrão argumentam em petição judicial que o preso já cumpriu um sexto da pena de 68 anos e oito meses, atingindo assim o lapso necessário para a progressão do regime semiaberto.

Segundo os defensores de Macarrão, a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) atestou que o preso tem boa conduta carcerária. Para os advogados, o histórico prisional do detento revela que ele é merecedor do benefício pleiteado.

Em 2007, dois anos antes de ser excluído do PCC e jurado de morte, Macarrão convivia lado a lado com a cúpula da organização criminosa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.

Em uma audiência judicial gravada em vídeo, ao qual este colunista teve acesso, Macarrão revela que a cabeça dele vale R$ 3 milhões para quem conseguir matá-lo.