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Dono de 'rede hospitalar' do PCC planejava abrir filiais no Recife, diz PF
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Dono de 38 clínicas médicas e odontológicas em São Paulo, o narcotraficante Anderson Lacerda Pereira, 41, o Gordão, foragido da Justiça, planejou em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde se refugiou, ampliar a "rede hospitalar" do PCC (Primeiro Comando da Capital) na região do Recife.
O enteado dele, Renato da Silva Bustamante de Sá Júnior, 29, foi preso pela Polícia Federal no dia 29 de setembro deste ano na capital pernambucana, onde administrava os negócios do padrasto. Ele vivia em um apartamento de luxo no Recife. No imóvel, os agentes apreenderam R$ 100 mil em dinheiro.
Segundo a Polícia Federal foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três clínicas odontológicas e em três endereços em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife, e na capital. Investigações da PF apontam que os consultórios foram abertos com dinheiro do tráfico de drogas e são usados na compra de insumos para refinar cocaína.
Renato era foragido da Justiça e contra ele havia um mandado de prisão temporária expedido em 18 de maio do ano passado pelo juiz Marco Antônio Martim Vargas, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital.
Em 30 de dezembro de 2016, Renato foi preso em flagrante sob a acusação de ter torturado Emerson Fernando da Silva, à época com 31 anos, funcionário de uma clínica de Anderson na zona leste de São Paulo, para obrigá-lo a assinar pedido de demissão voluntária. A vítima foi sequestrada no mesmo dia na porta do 49º DP (São Mateus) e até hoje não foi encontrada.
Renato foi solto em 1º de fevereiro de 2017. O processo está em andamento. O réu deveria ser ouvido em 27 de setembro deste ano na 14º Vara Criminal, no Fórum da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Porém, não foi intimado porque o endereço era incerto e o oficial de Justiça não o localizou. Dois dias depois ele acabou preso no Recife.
Condenado a sete anos por associação ao tráfico de drogas, Anderson Pereira também responde ao mesmo processo de lavagem de dinheiro, assim como o filho dele, Gabriel Donadon Loureiro Pereira, 26. As suspeitas da PF é a de que ambos estejam escondidos na Bolívia.
Em aparelhos de telefone celular apreendidos pela Polícia Civil, em endereços de Anderson, havia fotos dele com outros dois homens em um restaurante em Santa Cruz de La Sierra. Tinha também um vídeo em que ele aparece em um aeroporto na mesma cidade boliviana.
Outra fotografia mostra Anderson ao lado do filho Gabriel, do enteado Renato e de outras pessoas da família. Segundo a Polícia Civil, essa foto também foi feita em território boliviano e sinaliza que Renato e outros parentes estiveram com o narcotraficante naquele país.
Até agora não há informações sobre como Anderson e Gabriel conseguiram fugir do Brasil. Um vídeo em poder da Polícia Civil mostra pai e filho carregando malas e deixando às pressas um dos endereços da família minutos antes de ser cumprido um mandado de busca e apreensão no local.
Vizinhos de policiais
Mesmo sendo caçado pelas Polícias Federal e Civil, Anderson vivia tranquilamente em um condomínio de luxo em Arujá, na Grande São Paulo, onde é proprietário de 15 casas de alto padrão. Ele também tem um pequeno zoológico na cidade vizinha de Santa Isabel.
No residencial de Arujá, Anderson tinha como vizinhos delegado e investigadores da Polícia Civil. Um agente do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) cuidava da segurança no condomínio e chegou a ser preso, respondendo ao mesmo processo de lavagem de dinheiro.
Sem ser incomodado, Anderson desfilava em carros de luxo, fumando charutos, ostentando colares de ouro e relógios caros. E tinha ainda o hábito de carregar o livro "Cocaína - A Rota Caipira", do jornalista e escritor Allan de Abreu. A obra fala sobre o narcotráfico no Brasil e cita o foragido.
Investigações da Polícia Civil apontam que Anderson se infiltrou na política em Arujá e ganhou licitações em contratos nas áreas da saúde, educação e limpeza urbana. As estimativas são de que o narcotraficante acumulou um patrimônio avaliado em R$ 130 milhões.
Para a Polícia Civil de São Paulo, Anderson usou o dinheiro do narcotráfico para branquear capitais, abrir as clínicas médicas e odontológicas e adquirir um hospital no Arujá para atender inclusive integrantes do PCC baleados em confrontos com policiais.
Preso em 2010 e solto em 2011, o narcotraficante foi acusado na Operação Oversea, da Polícia Federal, de integrar uma quadrilha ligada ao PCC e responsável pelo envio mensal de toneladas de cocaína para a Europa via portos brasileiros, principalmente o de Santos.
A defesa de Anderson e de Gabriel Donadon rebate as acusações e diz que os clientes jamais integraram o crime organizado e são inocentes no processo de lavagem de dinheiro.
Os defensores de Renato afirmam que ele também é inocente e que as clínicas do Recife administradas por ele, e também as de São Paulo, são da família de Anderson, foram abertas legalmente e funcionam há pelo menos 10 anos.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
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