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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça do Paraguai decreta prisão preventiva de nº 1 do PCC em liberdade

Marcos Roberto de Almeida, considerado maior líder do PCC em liberdade - Reprodução
Marcos Roberto de Almeida, considerado maior líder do PCC em liberdade Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

07/03/2022 04h00Atualizada em 07/03/2022 15h50

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A Justiça do Paraguai decretou a prisão preventiva para fins de extradição de Marcos Roberto de Almeida, 51, o Tuta, apontado pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) como o principal líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) ainda em liberdade.

Segundo o MP-SP, Tuta recebeu carta branca da alta cúpula do PCC para gerenciar os negócios ilícitos da facção, especialmente o tráfico internacional de drogas. Ele é egresso do sistema prisional desde 9 de setembro de 2014 e considerado o integrante mais perigoso da organização ainda solto.

A reportagem não conseguiu falar com os advogados de Tuta neste final de semana, mas publicará na íntegra a versão dos defensores dele assim que houver uma manifestação.

Tuta responde a processo em São Paulo pelas acusações de associação à organização criminosa e lavagem de dinheiro. O foragido é acusado pelo MP-SP de ter ocultado —com outros 19 réus— a movimentação de R$ 1 bilhão da facção criminosa no período de janeiro de 2018 a julho de 2019.

Caso Tuta seja preso no Paraguai, a Justiça do país vizinho tem prazo de 40 dias para formalizar o pedido de extradição ao Brasil, a contar da data da notificação da detenção. As suspeitas das autoridades brasileiras são as de que o criminoso esteja escondido em território paraguaio ou na Bolívia.

A Suprema Corte do Paraguai assinou a prisão preventiva para fins de extradição de Tuta no dia 11 de fevereiro de 2022, a pedido da Justiça de São Paulo. Na mesma data, o governo paraguaio comunicou a decisão ao Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil.

Também foram comunicados a Interpol (Polícia Internacional), o Comando de Polícia Nacional, o Departamento de Migração e a Direção de Assuntos Internacionais do Paraguai, além do Ministério das Relações Exteriores brasileiro e da Embaixada do Brasil em Assunção.

Matar juiz e autoridades

O nome de Tuta também foi envolvido em uma carta de três páginas contendo denúncias de possíveis atentados contra um juiz de Rondônia e funcionários do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) planejado pelo PCC em protesto contra a falta de visitas em presídios federais.

A correspondência foi postada em setembro de 2020 em uma agência dos Correios de Presidente Venceslau (SP) e tinha como destinatário o diretor-geral da Penitenciária 2 da cidade, Malvino André Alves Fahl. O presídio é até hoje um dos maiores redutos do PCC.

A carta, porém, era endereçada a um promotor de Justiça. O autor se apresentou como um preso da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau chamado Ronaldo Camargo. A unidade prisional, entretanto, diz que jamais abrigou um presidiário com esse nome.

Em uma das páginas, o falso Ronaldo revela que a liderança do PCC, até então recolhida na Penitenciária Federal de Brasília, havia repassado ordens para Tuta coordenar os ataques às autoridades e que ele teria a ajuda de um outro preso da P-2 de Venceslau.

Segundo o autor da correspondência, a liderança do PCC presa em Brasília tinha deixado bem claro que os planos deveriam ser abortados se fossem descobertos pela imprensa. O escritor anônimo menciona ainda que se isso acontecesse Tuta seria excluído da facção e sofreria represálias.

Vazar os planos para Datena

O autor da carta orienta o promotor de Justiça a vazar os planos de atentado da liderança do PCC para o jornalista José Luiz Datena, apresentador do programa Brasil Urgente, exibido na Band, com o objetivo de colocar Tuta contra a cúpula da facção e provocar um grande racha na maior organização criminosa do país.

Em 21 de abril de 2021, o diretor-geral da P-2 de Venceslau, Malvino Fahl, determinou a abertura de procedimento interno disciplinar em "desfavor" do preso da P-2 de Venceslau, citado na carta do falso Ronaldo Camargo, como o homem que ajudaria Tuta no planejamento dos atentados às autoridades.

O Ministério Público pediu e a Justiça concordou em arquivar o caso porque as investigações não apontaram quem foi o autor da correspondência e muito menos provas sobre a participação do preso da P-2 acusado pelo denunciante anônimo de ser o comparsa de Tuta no planejamento das ações terroristas.

Denúncias semelhantes

O Gaeco (Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão subordinado ao Ministério Público, recebeu outras denúncias semelhantes envolvendo a participação de Tuta não só em atentados, mas em ações de resgates de líderes do PCC recolhidos em presídios federais.

As denúncias foram rigorosamente investigadas pelas forças de segurança de São Paulo e o autor, com medo de sofrer represálias do crime organizado, foi colocado no programa de proteção à testemunha.

Entre os delatados por ele estão homens da cúpula do PCC, acusados por lavagem de dinheiro, e também personagens apontadas como "celebridade" por mulheres de presidiários.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.