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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PCC monta empresa de logística para enviar cocaína à Europa, diz polícia

Cão fareja drogas em carregamento no porto de Santos durante operação da Receita Federal   - Divulgação/Receita Federal
Cão fareja drogas em carregamento no porto de Santos durante operação da Receita Federal Imagem: Divulgação/Receita Federal

Colunista do UOL

28/12/2022 04h00Atualizada em 14/06/2023 12h54

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Policiais civis da Baixada Santista investigam a participação de traficantes de drogas ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) na criação de empresas logísticas destinadas à exportação de cocaína à Europa, escondida em meio às cargas lícitas em contêineres no porto de Santos.

A suspeita ganhou força em agosto deste ano, quando técnicos da Receita Federal detectaram três carregamentos de cocaína, totalizando quase 1,7 tonelada da droga, escondidos em cargas de açúcar. Todos eles passaram pelo mesmo pátio de exportação em Santos.

O pátio está sob fiscalização aduaneira e a responsabilidade local é de uma empresa de logística constituída em 2017. Segundo policiais civis, a companhia é de propriedade de um empresário de 38 anos, da Baixada Santista.

Investigadores de Santos e da Praia Grande apuraram que a empresa foi registrada com capital social de R$ 100 mil e que em 8 de outubro de 2019 houve alteração para R$ 800 mil, passando a ter também como único sócio o empresário suspeito.

Ele e dois parceiros foram presos na semana passada e são acusados por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Com o trio, a polícia disse ter apreendido R$ 1 milhão em espécie, fuzis, pistolas semiautomáticas, munição, motocicletas e carros importados e ao menos 50 kg de cocaína.

A Polícia Civil investiga se houve participação de pessoas da empresa nas remessas de droga em contêineres para a Europa. Um dos carregamentos, de 700 kg de cocaína, foi apreendido em Santos por agentes da Receita Federal com a ajuda de um cão farejador.

Outras duas remessas, sendo uma de 520 kg e outra de 460 kg de cocaína, foram apreendidas na Espanha pela polícia local. Esses dois carregamentos também partiram do porto de Santos e a droga estava escondida em cargas lícitas de açúcar.

Ainda segundo os policiais civis, o empresário preso não pertence ao PCC, mas tem fortes ligações com comparsas integrantes da facção criminosa, alguns deles grandes narcotraficantes foragidos na Bolívia, país produtor de cocaína.

Cocaína apreendida pela Receita em operação no porto de Santos - Divulgação/Receita Federal - Divulgação/Receita Federal
Cocaína apreendida pela Receita em operação no porto de Santos
Imagem: Divulgação/Receita Federal

Na mira da polícia

O empresário e um funcionário dele começaram a ser investigados em 2021, quando policiais civis receberam uma denúncia informando que ambos atuavam em uma organização criminosa que praticava tráfico de drogas e roubos contra instituições financeiras e condomínios de luxo.

Os agentes seguiram os passos dos suspeitos e descobriram que eles usavam veículos da empresa de logística e saíam da Baixada Santista com destino à comunidade de Heliópolis, onde se encontravam com outros comparsas para tratar de remessas de armas, explosivos e drogas.

Outros encontros aconteciam em uma cafeteria na alameda Campinas, nos Jardins, em São Paulo. Ao investigar o empresário e o funcionário dele, os policiais civis chegaram a outros quatro suspeitos de envolvimento no tráfico internacional de drogas. Todos estão na mira da polícia.

Os suspeitos foram filmados e fotografados durante vários encontros. Os policiais apuraram que dois deles chegaram inclusive a viajar para Dubai, nos Emirados Árabes, país — de acordo com os agentes — para onde é destinado dinheiro do tráfico de drogas e do crime organizado.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.