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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PCC acompanhou rotina de agentes federais alvos de atentado em Campo Grande

Imagem externa do presídio de segurança máxima de Campo Grande - Divulgação
Imagem externa do presídio de segurança máxima de Campo Grande Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

03/03/2023 04h00

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Integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) presos em Rondônia em 27 de janeiro deste ano sob a acusação de planejar ataques contra funcionários da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) também tinham levantamento de endereços de agentes de Campo Grande (MS).

A descoberta foi feita por peritos da Polícia Federal ao analisar os telefones celulares apreendidos com Evandro Robier Dias da Silva, 53, o Trombada, e Douglas Costa Alves de Souza, 27. Segundo a PF, a dupla pretendia matar a vítima de Porto Velho no dia 28 de janeiro, mas acabou presa um dia antes.

Em um dos celulares apreendidos, de propriedade de Douglas, havia informações sobre levantamento de endereço de um servidor, provavelmente funcionário da Penitenciária Federal de Campo Grande. O alvo foi seguido em maio de 2022.

Nos dados extraídos do aparelho foram encontradas duas mensagens relevantes. Uma delas tem data de 18 de maio de 2022 e diz que o alvo sai de casa às 7h e retorna às 18h30. Há ainda informações sobre a rotina diária do agente.

A mensagem menciona que o alvo vai trabalhar de Uber durante a semana, mas nunca usa o mesmo carro. O texto informa que o endereço do servidor federal é um lugar de fácil acesso e fica a dois quarteirões de uma base do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

No final da mensagem consta que o bairro onde reside o provável agente penitenciário federal fica em uma área nobre da capital de Mato Grosso do Sul e que as ruas da região são "big brother", ou seja, tem várias câmeras de segurança.

A segunda mensagem também tem data de 18 de maio de 2022 e as suspeitas são de que se refere a outro servidor federal. As anotações mostram que esse alvo sai de casa às 8h, costuma deixar o serviço às 16h30, entra na academia às 17h40, permanece lá até 20h e chega em casa às 20h40.

O texto afirma que o alvo, todos os dias antes de sair para trabalhar, vai até o portão, dá uma olhada na rua para se certificar que está tudo bem e só depois disso deixa a residência. A mensagem acrescenta que por causa da pandemia de covid-19 é impossível "pegá-lo sem máscara".

No celular de Douglas também havia outras mensagens sobre o alvo de Porto Velho marcado para morrer a mando do PCC. Os diálogos indicam que a vítima escolhida pela facção foi seguida em muitas ocasiões, uma delas desde casa até a um supermercado e foi fotografada várias vezes.

Trombada foi condenado por roubo e tráfico de drogas e cumpriu pena na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), um dos mais fortes redutos do PCC no sistema prisional paulista. Ele e Douglas estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho.

A Polícia Federal procura a mulher de Trombada, Andresa Leite Farias, 42, e a mulher de Douglas, Kimberly Francisco da Costa, 24. Os quatro tiveram a prisão preventiva decretada por um juiz federal de Rondônia, como informou esta coluna na última quarta-feira (1).

No último dia 27, o magistrado também aceitou a denúncia oferecida contra eles pelo MPF (Ministério Público Federal). Os réus respondem a processo por associação à organização criminosa.

Agentes da PF apuraram que a quadrilha é de São Paulo, não tem vínculos em Rondônia, mas alugou um apartamento em Porto Velho, usado como base do bando, e ainda comprou carro para monitorar os servidores e toda a rotina e a vigilância do presídio federal da cidade.

Autoridades do SPF (Sistema Penitenciária Federal) acreditam que o PCC planeja atentar contra a vida dos servidores em represália à permanência dos chefes da facção criminosa recolhidos nos presídios de Brasília (DF), Porto Velho, Mossoró (RN), Campo Grande e Catanduvas (PR).

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos quatro réus, mas publicará na íntegra a versão dos defensores deles assim que houver uma manifestação.