Josmar Jozino

Josmar Jozino

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Tiroteio no aeroporto de Guarulhos mata pivô de guerra no PCC e fere 3

Um ataque a tiros deixou um morto e três feridos na tarde desta sexta-feira (8) no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. A vítima foi identificada como o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele era o pivô de uma guerra interna na facção criminosa e foi alvo de um atentado no Natal do ano passado.

Gritzbach desembarcava no aeroporto com a namorada após voltar de Maceió. Ele teria encontrado dois seguranças — um deles estava com o filho do empresário, que teria visto o crime, apurou a coluna. Não há informações se os feridos teriam algum relacionamento com a vítima.

Um carro que teria sido usado pelos atiradores foi apreendido por equipes do 3º Batalhão de Polícia de Choque, na Avenida Otávio Braga de Mesquita, em Guarulhos. À coluna, a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo informou que o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) investiga as circunstâncias do homicídio. O policiamento no local e imediações segue reforçado com PMs do batalhão de área e do Choque.

O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach Imagem: Divulgação

Imagens que circulam nas redes sociais mostram ao menos um baleado na pista que dá acesso ao desembarque do aeroporto, e outro dentro do aeroporto. Dois dos três feridos foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos. Os estados de saúde deles não foram divulgados.

O terceiro ferido foi atendido e ouvido pelas autoridades no aeroporto. "Outras testemunhas também estão sendo ouvidas pela Polícia Civil. Mais informações serão divulgadas ao término do registro da ocorrência", disse a pasta.

A concessionária do aeroporto disse à coluna que a "polícia foi prontamente acionada, assim como a equipe médica do aeroporto [para o atendimento da ocorrência]". "Mais informações podem ser obtidas com autoridades policiais", concluiu.

Perícia é realizada no local onde o empresário foi alvo de um ataque a tiros no aeroporto de Guarulhos
Perícia é realizada no local onde o empresário foi alvo de um ataque a tiros no aeroporto de Guarulhos Imagem: Uesley Durães/UOL

A polícia investiga se ele foi assassinado a mando do PCC, mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.

Continua após a publicidade

Gritzbach dizia a pessoas próximas que temia pela vida. Na delação feita ao MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), ele disse que um advogado ligado ao PCC ofereceu R$ 3 milhões "pela cabeça" dele.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse no X que o atentado no aeroporto será "rigorosamente" investigado. "Todas as circunstâncias serão rigorosamente investigadas e todos os responsáveis serão severamente punidos. Reforço meu compromisso de seguir combatendo o crime organizado em São Paulo com firmeza e coragem", escreveu.

Acusações contra empresário

Vinícius e o agente penitenciário David Moreira da Silva, 38, foram acusados pelo MPSP, pelos assassinatos de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.

Eles foram mortos a tiros às 12h10 de 27 de dezembro de 2021 em frente ao número 110 da rua Armindo Guaraná, no Tatuapé, zona leste paulista. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em 16 de janeiro de 2022, no mesmo bairro.

Continua após a publicidade

Segundo o MPSP, Cara Preta era um integrante influente do PCC e envolvido com o tráfico internacional de drogas e outros delitos. Já Sem Sangue era o motorista e braço direito dele.

O empresário e o agente penitenciário chegaram a ficar presos e foram denunciados à Justiça pelo crime, mas respondiam o processo em liberdade.

Vinícius deixou a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) pela porta da frente, em 7 de junho de 2023, usando tornozeleira eletrônica. A defesa dele temia pela vida do cliente e dizia que se ele ficasse segregado poderia morrer na prisão por integrantes do PCC.

Os advogados de Vinícius disseram à coluna que os verdadeiros culpados pelas mortes de Anselmo e Antônio Corona foram arrolados como testemunhas de acusação do empresário.

Na denúncia oferecida contra os dois acusados, O MPSP diz que Vinícius trabalhava com imóveis e operações com bitcoins e, após conhecer Cara Preta, passou a realizar negócios com ele e fazer investimentos para a vítima.

Conforme o MPSP, Cara Preta suspeitou que o empresário estava subtraindo parte dos valores investidos por ele e começou a cobrá-lo e a exigir a prestação de contas das operações realizadas e também a devolução do dinheiro.

Continua após a publicidade

Sequestro

Em 21 de junho de 2023, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), unidade de elite da Polícia Civil de São Paulo, recebeu uma denúncia de sequestro no Tatuapé, zona leste paulistana, e mobilizou várias equipes para investigar o caso.

A informação era de que Vinícius teria sido colocado em um Fiat Pálio vermelho, ocupado por dois policiais civis, e levado para cativeiro no Jardim Brasília, zona leste, por volta de 15h.

O empresário havia sido levado para a rua Manoel Pinheiro de Albuquerque, 157, e só retornou para seu apartamento às 16h30. Ele foi conduzido ao DHPP para prestar depoimento no mesmo dia. Porém, negou ter sido sequestrado e contou uma versão inverossímil à polícia.

Disse que era corretor e recebeu ligação de um investigador chamado Valdenir para avaliar um imóvel na região de Itaquera. Acrescentou que no Palio vermelho havia um outro homem. O empresário afirmou que foi à casa do policial e conheceu a mulher e a duas filhas dele.

Já na residência, Vinícius revelou que recebeu a ligação telefônica de sua mulher, perguntando se ele havia sido sequestrado. O corretor negou, mas entendeu por bem voltar para seu apartamento, na região do Jardim Anália Franco, no Tatuapé.

Continua após a publicidade

No dia 26 de junho, o empresário prestou um segundo depoimento e mudou a versão. Dessa vez alegou que foi levado ao Jardim Brasília no Palio vermelho ocupado por Valdenir, por um segundo policial e também por um terceiro homem, integrante do crime organizado.

Segundo o empresário, o desconhecido queria uma lista dos imóveis de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, um dos narcotraficantes influente no PCC, que teria sido assassinado a mando do próprio Vinícius ao lado do motorista Antônio Corona Neto, o Sem Sangue.

No novo depoimento, o empresário, réu pelo duplo homicídio, revelou que enquanto esteve na casa de Valdenir, um advogado ligou para o policial, a quem ofereceu R$ 3 milhões para que o entregasse aos comparsas de Cara Preta. Depois disso ele acabou liberado e foi embora.

Foram presos um dia depois por outro crime

A Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar se Vinícius havia sido sequestrado por homens da corporação. A Casa Censora descobriu que o Pálio vermelho foi usado em 21 de junho de 2023 pelos investigadores Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo, e Valmir Pinheiro, 55, o Bolsonaro.

Os agentes foram ao endereço de Valdenir no Jardim Brasília. Câmeras de segurança filmaram o Pálio estacionado a 160 m da casa dele. A geolocalização da tornozeleira eletrônica usada por Vinícius também indiciou que ele esteve naquela região no mesmo dia.

Continua após a publicidade

Os investigadores estavam à época lotados no 95º DP (Heliópolis). Ambos também foram ouvidos na Corregedoria da Polícia Civil e negaram ter sequestrado Vinícius. Valdenir sustentou que era amigo do empresário e o convidou para avaliar a casa dele na zona leste.

No último dia 2, atendendo a pedido do MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), a juíza Helena Furtado de Albuquerque Cavalcanti do Foro Central Criminal da Barra Funda, na zona oeste, decidiu arquivar o inquérito que apurava o suposto sequestro de Vinícius.

Valdenir e Valmir, no entanto, acabaram presos pela Polícia Federal no dia seguinte, durante deflagração da Operação Face Off,. Os investigadores foram acusados de receber propina de R$ 800 mil de criminosos para não levar adiante investigações sobre o tráfico internacional de drogas.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.