'Policiais queriam R$ 40 mi para me livrar de inquérito', disse Gritzbach
Oito dias antes de ser assassinado com 10 tiros no aeroporto Internacional de Guarulhos, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, foi à Corregedoria da Polícia Civil e declarou que um delegado e um investigador lhe pediram R$ 40 milhões para tirar o nome dele de um inquérito de duplo homicídio.
Os depoimentos à Corregedoria da Polícia Civil foram obtidos em primeira mão pela Rede Globo de Televisão e confirmados pelo UOL.
O empresário prestou dois depoimentos em 31 de outubro. Em um deles, Gritzbach contou que o pedido de R$ 40 milhões foi feito por um delegado e o chefe dos investigadores do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Os dois eram responsáveis pelo inquérito que apura as mortes de dois integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Vinícius foi acusado e ser o mandante dos assassinatos. As vítimas são Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, narcotraficante até então influente no PCC, e o comparsa Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, 33, motorista dele, mortos a tiros em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé.
Segundo Vinícius, os policiais chegaram a receber R$ 1 milhão e dinheiro foi entregue pelo dono de uma loja de carros no Jardim Anália Franco, zona leste paulistana. O empresário afirmou que os dois policiais foram pessoalmente ao restaurante Sonora receber o dinheiro.
O empresário revelou na Corregedoria que após as mortes de Cara Preta e Sem Sangue, ele foi sequestrado por integrantes do "tribunal do crime" do PCC e levado para um cativeiro, no Tatuapé, onde estavam dois agenciadores de jogadores de futebol, um deles Rafael Maeda Pires, o Japa.
O sequestro, continuou Vinícius, também foi investigado pelo DHPP, mas o caso acabou arquivado porque o agenciador dos jogadores Gabriel Jesus, Eder Militão, entre outros, e Japa pagaram R$ 10 milhões a estes dois policiais para não serem presos.
No depoimento, o empresário contou que os policiais ficaram com R$ 5 milhões cada. Ele disse que foi informado da corrupção por dois policiais civis.
Ambos foram presos pela Polícia Federal em setembro deste ano, acusados de receber R$ 800 mil de João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone, um dos maiores exportadores de cocaína à Europa, para interromper uma investigação sobre tráfico internacional de drogas.
Japa foi encontrado morto com tiro na cabeça dentro de um Toyota no subsolo de um prédio no Tatuapé, em maio de 2023. Segundo Vinícius, ele era dono de um banco digital e tinha como sócios Cara Preta e um policial civil do Deic (Departamento estadual de Investigações Criminais)
Relógios roubados
No dia em que foi preso pelos policiais do DHPP, acrescentou o depoente, Vinícius teve uma valise com 20 relógios de luxo, levados pelo delegado e pelo investigador. Ele foi conduzido para o 8º DP (Belém), na zona leste.
De acordo com Vinícius, na delegacia, os policiais tinham prometido entregar os relógios quando ele fosse solto. Porém, devolveram apenas 13 e ficaram os outros sete, avaliados em R$ 714 mil. Ele detalhou as marcas, modelos e números de séries dos artigos.
Posteriormente, declarou Vinícius, outro investigador foi visto por ele em redes sociais usando os relógios Rolex Yacht Master, de Ouro, de R$ 200 mil, o mais caro dos sete não devolvidos, além do Rolex GMT Pepsi e dois Hublot King Power.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados do delegado, investigadores ou do empresário de jogadores de futebol. O espaço continua aberto para manifestações e o texto será atualizado se houver um posicionamento.
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Quero receberVinícius havia contratado cinco policiais militares para fazer a escolta pessoal dele. Todos foram afastados. Até agora, a força tarefa criada para apurar o assassinato do empresário diz que ao menos oito policiais - sem detalhar quantos militares e civis - estão afastados das funções.
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