Facebook e Twitter acertam ao punir Trump por mentira e desinformação
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Há algo de novo nas redes sociais. Aos poucos, surte efeito a cobrança de setores da sociedade e da política nos Estados Unidos para que empresas como Facebook e Twitter tenham mais responsabilidade sobre o conteúdo que os seus usuários publicam.
O debate sobre eventual censura à liberdade de expressão é pertinente. Tem mesmo de ser levado em conta. No entanto, mentir e distorcer não são liberdade de expressão.
No caso de presidentes da república, mentiras e distorções têm peso muito maior do que para usuários comuns das redes sociais. Essas plataformas são ferramentas para comunicação direta entre governantes e governados.
Nesse contexto, o Facebook e o Twitter fizeram muito bem nesta quarta ao penalizar, respectivamente, a conta pessoal do presidente Donald Trump e a de sua campanha à reeleição.
O Facebook removeu um post da no qual Trump dizia que crianças tem "quase imunidade" contra a covid-19, o que é falso. Pior: é perigoso para a saúde pública.
Numa entrevista por telefone à rede de TV Fox News, Trump defendeu a reabertura das escolas nos Estados Unidos usando uma mentira.
Crianças contraem, transmitem e adoecem. Ainda não estão claros os efeitos de médio e longo prazo do coronavírus entre elas, que, de fato, formam um grupo de risco menor do que outros segmentos etários.
O Twitter derrubou uma penca de posts da conta de campanha de Trump sob o argumento de desinformar sobre a pandemia, contrariando regras da empresa. Essa conta de campanha e a de Donald Trump Jr., filho do presidente, foram proibidas de fazer novas postagens por 12 horas.
Claro que Facebook e Twitter não ficaram responsáveis e bonzinhos de uma hora para outra. No verão passado, permitiram uma utilização de suas redes sociais que demonizou a política e enfraqueceu democracias no mundo inteiro.
Recentemente, os principais executivos e donos de Facebook, Google, Amazon e Apple prestaram depoimentos no Congresso americano sob juramento. A pressão por uma maior responsabilidade do conteúdo das redes sociais não pode ser carimbada como tentativa de censura. É preciso defender a democracia e a lisura no debate público, punindo quem abusa, seja ele um presidente da república ou simples cidadão.
No Brasil, há uma máquina de difamação e destruição de reputações que funciona dentro do Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos mentem e desinformam o tempo todo nas redes sociais. Esse comportamento é criminoso e como tal deve ser tratado.
No desespero para ser reeleito, Trump tenta dourar a pílula sobre a tragédia de coronavírus nos Estados Unidos. A prática de mentir e desinformar tem sido um método de governo, a exemplo do que Bolsonaro faz no Brasil. Mas a covid-19 criou uma crise real que expôs o despreparo e a irresponsabilidade do presidente, o que levou a uma queda do republicano nas pesquisas eleitorais.
Se as eleições de 3 de novembro fossem hoje, o democrata Joe Biden conquistaria a Casa Branca. Nesse cenário, a batalha nas redes sociais é vital para Trump tentar virar o jogo.
A pandemia de coronavírus criou uma oportunidade para que empresas que contribuíram para enfraquecer a democracia no planeta possam reavaliar as suas condutas. O peso que elas têm no debate público demanda maior responsabilidade, não importa quão poderoso ou famoso seja o usuário. A democracia tem um valor muito maior do que a busca por cliques a fim de encher o bolso de dinheiro.
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