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Kennedy Alencar

Bem treinado para debate final, Biden vai melhor e derrota Trump por pontos

Colunista do UOL

23/10/2020 00h16

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O candidato do Partido Democrata à Casa Branca, Joe Biden, derrotou o presidente Donald Trump por pontos no segundo e último debate da campanha eleitoral.

O democrata, que passou os últimos 4 dias se preparando com sua assessoria, soube se controlar contra provocações e teve mais bons momentos do que o republicano. Valeu a pena ter treinado. Trump preferiu continuar com atos de campanha e não se preparou como Biden. Pagou o preço de ter um desempenho pior.

Biden conseguiu manter a pandemia em debate por cerca de 30 minutos, quase um terço do tempo de duração de todo o confronto. Afirmou que "o povo americano não entrou em pânico", mas que Trump "entrou em pânico" ao saber da gravidade da pandemia de coronavírus.

Finalmente, Trump disse pela primeira vez que assumia "total responsabilidade" pela resposta à pandemia: Mas relativizou seu papel logo em seguida ao afirmar que o coronavírus não era culpa dele nem de Biden. Responsabilizou novamente a China.

O democrata teve um de seus melhores momentos ao falar de saúde pública. "As pessoas têm o direito de ter um plano de saúde que possam pagar", declarou.

Biden marcou um gol ao dizer que os cidadãos deveriam ter direito a um plano acessível porque esta é uma questão central nos EUA, onde seguro-saúde é caro. As pessoas vão à falência com contas hospitalares altíssimas.

Trump até hoje não apresentou a sua proposta para substituir o Obamacare, que tenta derrubar completamente na Justiça. Grosso modo, o Obamacare é uma lei que obriga as seguradoras a aceitar a cobertura de doenças preexistentes.

A mediadora do debate, a jornalista da NBC News Kristen Welker, conduziu bem o confronto. Trump tentou sair do roteiro sutilmente, pedindo mais tempo para responder a Biden. Mas o presidente estava mais controlado e atropelou menos do que no primeiro debate, apesar de ter atropelado quando Biden falava algumas vezes quando os microfones de ambos estavam ligados.

Num ato falho e diante da mediadora negra, Trump se disse "a pessoa menos racista" no auditório da Universidade de Belmont, que sediou o debate na cidade de Nashville, no Tennessee. Afinal, ser menos racista é ser racista. Biden reagiu à fala de Trump: "Meu Deus".

Biden respondeu melhor às questões sobre imigração e tensões raciais que geraram protestos em massa nos EUA neste ano. "Tem racismo institucional no país", afirmou o democrata. Biden bateu no fato de que mais de 500 crianças separadas dos pais pela política de Trump contra imigrantes não conseguem se reunir com sua família.

Segundo Biden, "caráter está em julgamento nas urnas". O ex-vice-presidente durante o governo de Barack Obama respondeu com firmeza a acusações de corrupção que se mostraram, até o momento, infundadas. "Não é verdade", repetiu diversas vezes. Outra tirada boa de Biden foi usar a expressão "Com'on?! (Qualé?!, em inglês) diversas vezes, ironizando Trump e fazendo um contraste entre a integridade de ambos.

O democrata soube manter a calma enquanto Trump, nervoso, jogou baixo, insinuando que Hunter Biden, filho de Joe Biden, saíra do Exército por uso de drogas e que tentara fazer tráfico de influência usando o nome do pai.

Biden deu bem o troco. Disse que nunca pegara um centavo de um país estrangeiro e que publicara sua declaração de rendimentos. Mas lembrou que Trump é quem esconde essa informação do público e possui conta secreta na China, como revelou recentemente o jornal "The New York Times". Biden acusou Trump de ter relações estranhas com autocratas, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e um "bandido" (Kim Jong-Un, ditador da Coreia do Norte).

Trump mentiu menos do que no primeiro confronto, mas mentiu, como dizer que a vacina chegará em semanas e que o país está vencendo a pandemia. É falso. A pandemia recrudesce nos EUA.

O presidente voltou a mentir ao afirmar que Anthony Fauci, o principal infectologista do país, é contra o uso de máscaras. No começo da pandemia, Fauci não encorajou o uso de máscara, porque não havia estudos confirmando a eficiência e faltava proteção aos médicos e enfermeiros. Mas mudou de ideia depois. Trump simplesmente mentiu a respeito de Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas.

Em resumo, Trump não foi mal, mas Biden foi melhor. O democrata não caiu nas provocações, demonstrou mais energia do que no primeiro debate e deu respostas mais contundentes e claras. É o presidente que está atrás nas pesquisas e precisava criar um fato político para mudar o rumo da eleição. Nesse ponto, Trump fracassou.