Márcio França questiona plano de reabertura de Doria para São Paulo
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Do UOL, em São Paulo
O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), questionou na edição de hoje do UOL Entrevista o motivo pelo qual as cidades terão diferenças de tratamento no plano de reabertura para São Paulo anunciado hoje por João Doria (PSDB).
"Qual a explicação, por exemplo, para a cidade de São Paulo ter um tratamento, a grande São Paulo ter outro e o litoral outro? Diz ele que é sanitário, eu sinceramente não vejo isso. Ele tinha que caminhar para alguma coisa diferente, podia fazer alternativa, alguns comércios abrirem determinado dia, o [Paulo] Skaf [presidente da Fiesp] foi quem tinha falado primeiro sobre isso", afirmou a Leonardo Sakamoto.
Para ele, Doria tem experiência como apresentador e não consegue colocar o estado como uma liderança no combate à pandemia. "Ele é um apresentador. Ele é profissional na área da comunicação, na área dele, e é do que ele gosta, essa coisa dos eventos. Então eu percebo uma necessidade de fazer anúncios, que depois nem sempre casam com a realidade. Aproveitou essa polêmica com o [presidente Jair] Bolsonaro e ficou num bate boca nacional", avaliou.
"São Paulo não é um estado que possa ser comandado sem ele próprio ter iniciativas. O estado de São Paulo tem que ter iniciativas. Eu, acho sinceramente, um absurdo ele ter ido à China duas vezes e a gente não ter antecipado algumas coisas, a compra de algumas coisas, aquisição de álcool em gel, máscara, respirador e teste, que era o básico."
"São Paulo tem a vantagem de fazer na frente dos estados, tem mais recursos, tem uma instituição de pesquisa muito séria, a Fapesp, universidades de ponta. O normal seria São Paulo sair na frente", ponderou.
"Doria vê Covas como funcionário"
França afirmou, ainda, que Doria trata o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), como um funcionário do governo estadual. Covas, eleito vice de Doria, assumiu a prefeitura após o governador deixar o cargo para disputar as eleições de 2018.
"No fundo, como ele se elegeu governador e o Bruno ficou no lugar, ele [Doria] tem a sensação de que a prefeitura é uma extensão do comando dele. O Bruno tem essa característica de que não vai ficar brigando com o sujeito em público, mas não creio que tenha sido bom, não cria um contraponto", afirmou o pessebista.
A condução do governo, afirmou, passa a sensação de desânimo ao falhar em comunicar com clareza à população, sobretudo aos mais pobres, o cenário da epidemia e as perspectivas de saída.
"As pessoas criaram um desânimo coletivo. O Datafolha pergunta 'quanto tempo acha que vai demorar para voltar?' e respondem que acham que dois, três meses", disse França.
Ele pontuou que muitos não têm como ficar mais todo esse tempo sem remuneração e há quem não tenha conseguido os R$ 600 de auxílio emergencial distribuídos pelo governo federal.
"Foi uma espécie de alinhamento dos astros, elegemos numa saraivada gente nova na gestão pública. São pessoas que têm experiência no negócio privado, mas pouca experiência na vida pública. Fica refém da circunstância, não sabe o que fazer", afirmou.
O ex-governador criticou a relação de Doria com as polícias no estado que, segundo França, é ruim desde o início do mandato. Caberia, por exemplo à Polícia Militar aplicar sanções e punições a quem furasse a quarentena, como o tucano sugeriu no início das medidas de restrição.
Eleições municipais
Sobre as eleições municipais, França diz que tem a intenção de disputar a Prefeitura da capital e tem se articulado com o PDT em uma chapa única. No entanto, disse que a crise provocada pelo novo coronavírus colocou as discussões eleitorais em suspenso. O pessebista espera contar com o recall das eleições de 2018, quando ele venceu Doria no segundo turno na capital.
As eleições de São Paulo, afirmou França, devem antecipar as discussões nacionais. Se Covas se reeleger, Doria fica bem posicionado para a eleição presidencial. "E se o eleito for ligado ao Bolsonaro, se o PT voltar? É um pouco do anteparo das eleições seguintes."
Nesse sentido, França diz imaginar que os eleitores paulistanos estarão "ressabiados" por ter eleito governantes que, segundo ele, não tinham preparo e não conseguem estabelecer diálogo diante das consequências da epidemia do novo coronavírus.
"Eles, no desespero, na improvisação, determinaram várias compras e não tiveram cautela de exigir o lastro. Na China tem vários formatos, mas um é certo: tudo lá é governamental, tudo tem origem no governo. Quando apareceu alguém oferecendo coisa que não era certa, era só ter checado antes. [...] No caso do Doria, ele tinha aberto escritórios no exterior, não deu pra checar antecipadamente?", afirmou o ex-governador, referindo-se a respiradores que o governo paulista comprou e não recebeu.
Ele também comentou as investigações envolvendo compras de respiradores pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), alvo de investigação na Justiça. A organização alvo de investigação no estado fluminense também presta serviço para a capital paulista, afirmou.
"Sujeito é prefeito e governador, vê a situação apertando, gente morrendo, chama la e fala se vira, contrata, monta hospital, faz coisa de campanha, passa para a organização social. Organização social não é em formato público. No desespero, sai comprando e compraram muito gato por lebre, não só respirador, mas teste. Tudo isso tem a ver com história da improvisação, do desespero."
* Participaram desta produção Carolina Marins, Diego Henrique de Carvalho e Gabriela Sá Pessoa
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