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Leonardo Sakamoto

EUA podem ir ao caos com maioria democrata no Congresso e vitória de Trump

Donald Trump e Joe Biden - Brendan McDermid/Reuters;  Kevin Lamarque/Reuters
Donald Trump e Joe Biden Imagem: Brendan McDermid/Reuters; Kevin Lamarque/Reuters

Colunista do UOL

03/11/2020 09h57

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Além da escolha de seu novo presidente, a eleição que termina, nesta terça (3), nos Estados Unidos vai renovar 35 das 100 cadeiras do Senado e todos os 435 deputados. As pesquisas apontam para uma vitória democrata em ambas as casas. Se isso ocorrer junto à reeleição do republicano Donald Trump, podemos ter um emparedamento institucional de um presidente autoritário e populista, o que aprofundaria sua conexão com o naco violento da extrema direita para governar.

A despeito de sua relação promíscua com lobistas privados, é mais difícil a Casa Branca comprar votos no Congresso norte-americano em questões partidárias fortes do que o Palácio do Planalto junto ao Congresso brasileiro - onde parlamentares vendem-se como bananas ao presidente da República. Ainda mais neste momento de intensa polarização entre democratas e republicanos.

Em sua previsão final, o site FiveThirtyEight, que agrega e analisa pesquisas eleitorais, deu, nesta terça (3), que os democratas tomam o controle do Senado, hoje na mão dos republicanos, em 75% dos cenários analisados. Se isso acontecer, a maior chance é que seja por uma margem pequena, com 52 cadeiras.

Nos Estados Unidos, o voto de minerva no Senado é do vice-presidente da República, que tradicionalmente chefia a casa.

Ao mesmo tempo, os democratas devem manter o controle da Câmara dos Deputados. O FiveThirtyEight aponta que isso ocorre em 97% dos cenários analisados por eles.

Isso é suficiente para fazer avançar pautas de um Joe Biden levado ao poder, caso ele resolva aproveitar a maioria para "passar o trator", ao contrário do que fez Barack Obama ao assumir seu primeiro governo, em 2009. Ele quis "governar para todos os norte-americanos", como promete Biden, e evitou uma atuação mais progressista. No ano seguinte, perdeu o controle da Câmara dos Deputados de lá (há eleições a cada dois anos para o parlamento), o que tornou sua vida um inferno.

As pautas de Biden que poderiam passar com o controle de ambas as casas incluem a geração de empregos "verdes", o fortalecimento do sistema de saúde subsidiado, uma reforma tributária para cobrar bem mais dos super-ricos, o controle de venda de arma de fogo e a polêmica ampliação do número de assentos na Suprema Corte - para reduzir a influência conservadora.

Também é suficiente para travar projetos importantes de um Donald Trump reeleito. Os efeitos colaterais disso são imprevisíveis, uma vez que o levaria, através de discursos e ações, a se refugiar na extrema direita como base de apoio.

E os Estados Unidos tiveram lembretes do que esses grupos são capazes de fazer - de marchas de supremacistas brancos entoando palavras de ordem racistas enquanto carregavam tochas como a Ku Klux Klan, em agosto de 2017, em Charlottesville, até as milícias armadas dos mesmos supremacistas indo às ruas "garantir a segurança", com a benção de forças policiais - que estavam mais ocupadas em reprimir protestos do Black Lives Matter, neste ano.

A fórmula é conhecida e adotada, inclusive, no Brasil. Quando o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal resolveram lembrar Jair Bolsonaro (sem partido) de que seus poderes são limitados pela Constituição, neste ano, o presidente da República apoiou manifestações de rua que pediram o fechamento de ambas as instituições e a prisão de seus líderes, bem como um novo Ato Institucional número 5 (imposto pela ditadura, que concedia plenos poderes ao Poder Executivo e autorizava a censura e a violência estatal).

Mas uma maioria democrata em ambas as casas não seria o bastante para começar um processo de impeachment de Trump, o que demandaria a maioria simples dos deputados e dois terços (67) de votos de senadores.

Caso a média das previsões do FiveThirtyEight se concretize, seria necessário que 15 republicanos mudassem de lado. Por mais que muitos deles discordem da forma de Trump governar, isso é praticamente impossível na atual conjuntura de polarização e diante do instinto de sobrevivência dos políticos.