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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rumo às 2 mil mortes/dia, Bolsonaro continua empurrando pessoas para a rua

15.fev.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passeia de jet ski e causa aglomeração em praia de São Francisco do Sul (SC) - Dieter Gross/Ishoot/Estadão Conteúdo
15.fev.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passeia de jet ski e causa aglomeração em praia de São Francisco do Sul (SC) Imagem: Dieter Gross/Ishoot/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

03/03/2021 20h45

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Enquanto o Brasil caminha rapidamente para a marca de 2 mil mortes registradas num único dia por covid-19, Jair Bolsonaro continua sabotando o isolamento e o distanciamento social, únicas medidas capazes de frear a tragédia.

Acusando a mídia e não uma montanha de 260 mil mortos de ser a responsável por ter criado "pânico" em relação à covid, ele novamente criticou, nesta quarta (3), a recomendação de médicos e cientistas para ficar em casa, se possível. "O pessoal vai morrer de fome, de depressão?", perguntou.

Foram 1.840 óbitos registrados, também nesta quarta, de acordo com o consórcio dos veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, e 1.910, segundo dados do Ministério da Saúde. O recorde anterior (1.726 óbitos) durou apenas 24 horas.

Hospitais estão sem leitos de UTI para covid. Em vários municípios, falta oxigênio para pacientes não morrerem sufocados. A fome avança enquanto o Congresso Nacional debate a extensão do auxílio emergencial uma vez que o Ministério da Economia quis condicionar sua aprovação, veja só, a um ajuste fiscal. Todos o problemas remetem à falta de gestão, de logística, de articulação. De governo.

Para o presidente, contudo, o culpado da vez pelas desgraças é a circulação de informações e o isolamento imposto para evitar o colapso do sistema de saúde. Colapso que vai derrubando municípios pelo país e aumentando o número de mortos.

Estamos vivendo a "colheita" do Carnaval, quando uma parte do Brasil se aglomerou para se divertir e outra se aglomerou para trabalhar. O presidente da República estava num terceiro grupo, daqueles que trabalharam para promover aglomerações, como aquelas que causou em praias de Santa Catarina, para sabotar quarentenas.

E como o país vive o seu 42º dia seguido com mais de mil óbitos de média móvel, o fazendeiro do Palácio do Alvorada já havia começado esse plantio bem antes e ainda vai colher seus frutos por muito tempo.

Bolsonaro gasta saliva tentando convencer que está fazendo tudo o que poderia para vacinar a população. Mentira. Nesta quarta, o governo federal anunciou que decidiu fechar contrato para a compra das vacinas da Pfizer e da Johnson & Johnson. Se isso tivesse sido feito meses atrás, milhares de vidas teriam sido salvas. Mas não quis.

"Se tomar e virar um jacaré é problema seu", afirmou ele em dezembro, criticando a vacina que, agora, afirmou que irá adquirir. Infelizmente, vacina não é hambúrguer comprado em drive thru, no qual você pede e pega na cabine adiante. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, não conta, mas levará meses até as doses desses imunizantes chegarem ao Brasil.

Vamos ter que nos virar com as doses da CoronaVac e da Oxford/AstraZeneca, que não serão em número suficiente. O Brasil tem capacidade de vacinar mais de 2 milhões por dia, mas não faz isso porque não há imunizante. A demora vai significar mais mortes, mais quarentena e mais atraso na retomada da economia. Aí sim, mais depressão.

Isso sem considerar que o auxílio emergencial está atrasado porque o governo federal empurrou com a barriga o máximo que pode e, no final, Paulo Guedes quis condicionar sua aprovação a um ajuste fiscal. Enquanto isso, sem emprego e com pandemia, a miséria dispara. Aí sim, mais fome.

Começou a semana terceirizando a culpa para os governadores e prefeitos. Agora, para a imprensa. Até o final da quinzena, vai estar culpando Darwin.

Bolsonaro acredita que a solução é ir para a rua. E e, se pegar a doença, pegou. E se morrer, morreu. Se pensasse de outra forma, teria adotado outra estratégia eleitoral, assumindo o papel de comandante da guerra contra o vírus. Possivelmente, sua popularidade estaria bem melhor e a reeleição mais garantida.

Mas, aí, não seria Bolsonaro. Prefere forçar a barra para que todos saiam de casa, mesmo que custe vidas, num cálculo eleitoral que até faz sentido se você consegue dormir bem à noite sabendo que muita gente partiu por sua causa.