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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Senador que retirar apoio para CPI será cúmplice de genocídio, diz Randolfe

Jair Bolsonaro e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado - Mateus Bonomi/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Jair Bolsonaro e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Imagem: Mateus Bonomi/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

09/04/2021 17h47

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A reação do presidente Jair Bolsonaro à decisão do ministro Luis Roberto Barroso, que mandou o Senado instalar a CPI da Pandemia, é um indicativo de que ele sentiu o baque e está com medo do que pode revelar uma investigação sobre o que seu governo fez diante da covid-19. A avaliação foi feita à coluna por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição na casa.

"Barroso simplesmente disse para que a lei fosse cumprida. Mas a reação dele foi desproporcional. Com isso, Bolsonaro acaba nos dando um poder maior do que aquele que temos", avalia. "Ou seja, sentiu."

A instalação de uma comissão parlamentar de inquérito com o objetivo de apurar ações e omissões do governo federal durante a pandemia contava com mais assinaturas do que o necessário para a sua instalação.

Contudo, ela seguia na geladeira devido ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sob a justificativa de que ela criaria mais problemas em meio à pandemia. A oposição e membros de partidos do centrão acusavam-no de estar a serviço do governo ao segurar a CPI.

O ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, atendeu a um pedido dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e ordenou que a comissão fosse instalada. Isso irritou Bolsonaro, que afirmou que "falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial". Também disse que "falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política", entre outras acusações.

Barroso respondeu que apenas aplicou o que está previsto na Constituição e que consultou os outros ministros do STF antes de tomar a decisão.

Randolfe acredita que o presidente da República pode tentar forçar a retirada de assinaturas para inviabilizar a instalação da comissão. Ao todo, 32 senadores ratificaram o pedido, cinco a mais que o necessário. Um deles foi o Major Olímpio, terceiro senador morto por covid-19.

"A história vai escrever as páginas destes dias tristes, vai falar sobre a responsabilidade de Bolsonaro, vai contar que tentou-se instalar uma comissão para investigá-lo. Quem retirar o seu nome do pedido da CPI vai se inscrever no painel da infâmia da história como cúmplice de genocídio", afirma Randolfe.

Outra possibilidade, segundo ele, é, uma vez instalada, apoiadores do governo buscarem uma composição favorável de membros. O líder da oposição avalia que isso também não será fácil. E afirma que, no Senado, não há tantos apoiadores estridentes de Bolsonaro como na Câmara dos Deputados. "Não é como a CPMI das Fake News, em que ele mete a tropa de choque e segura", diz.

Por fim, Randolfe avisa que o governo pode tentar dificultar a realização dos trabalhos da comissão. Mas, segundo ele, há uma pandemia mortal em curso e a sociedade pede respostas urgentes do governo a ela, que passam por entender o motivo e os culpados pelo bloqueio de medidas para salvar vidas.

De acordo com ele, o presidente por tentar usar cortinas de fumaça e desferir ataques para excitar sua base de apoiadores na sociedade, chamando-a para defendê-lo.

"Isso, contudo, só vai demonstrar mais descontrole da parte dele. A queda de aprovação nas pesquisas de opinião mostra que sua base vem se mostrando menos resiliente do que parecia. Ele está perdendo base e se entrincheirando cada vez mais", avalia.

"Muitas pessoas que o apoiavam já começaram a perguntar 'Meu irmão, quando você vai começar a governar?' Porque há gente passando fome, gente morrendo", afirma.