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Leonardo Sakamoto

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Com auxílio parco, inflação e fome, aprovação de Bolsonaro tomba 13 pontos

Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

14/05/2021 09h32

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Após sua aprovação subir até 37% por conta da primeira fase do auxílio emergencial, Jair Bolsonaro vê agora ela despencar até 24%, de acordo com a nova pesquisa Datafolha, com o pagamento de um benefício insuficiente para manter uma família viva na pandemia. À fome, somaram-se recordes de inflação nos alimentos.

Mas poderia ser ainda pior se o grosso da população soubesse que, enquanto o presidente não garante alívio real para o sofrimento dos mais pobres, tem mordomias para tornar a sua própria vida mais confortável.

Entre a primeira e a segunda ondas da covid-19, o piso do auxílio emergencial pago a trabalhadores informais teve uma queda de 75%, indo de R$ 600 para R$ 150, e o teto caiu 68,75%, de R$ 1200 para R$ 375 por domicílio por mês.

Enquanto isso, ao longo de 2020, o preço do arroz aumentou 76%, do feijão, 45%, e do óleo de soja, surpreendentes 104%, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Pesquisa Aplicada (Ipea). Na média, a inflação para os brasileiros que tiveram renda de menos de R$ 1.650,50 por domicílio por mês foi maior do que a inflação dos que tiveram renda alta de mais de R$ 16.509,66 em 2020. Em números, para os pobres, 6,22%, para os ricos, apenas 2,74%.

E a fome atingiu 9% da população, a maior taxa desde 2004. De acordo com pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional foram 19,1 milhões que passaram fome em um universo de 116,8 milhões que conviveram que não tiveram acesso pleno e permanente à comida.

O levantamento foi feito no último trimestre de 2020, quando o auxílio emergencial já havia sido reduzido de R$ 600/R$1.200 para R$ 300/R$ 600. Mas não ao piso de R$ 150, ou seja, apenas 23% da cesta básica em São Paulo, segundo o Dieese.

Não é à toa que a aprovação a Bolsonaro, que chegou a 37% em agosto, passou a 31% em janeiro, 20 dias após seu governo bloquear o auxílio emergencial, chegando a 24%, o menor valor de sua gestão, na nova pesquisa Datafolha.

Entre os que ganham até dois salários mínimos, a aprovação está em 23%, o nível mais baixo entre as classes sociais, o que é especialmente preocupante para o presidente porque esse grupo representa mais da metade da sociedade brasileira.

Segundo o Datafolha, 55% das famílias que ganham até R$ 2.200 não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum em 2022. Em um segundo turno entre ele e Lula, o resultado seria de 60% a 28% a favor do petista se apenas essa camada mais pobre decidisse. Entre os desempregados, 14,4 milhões de pessoas de acordo com a PNAD Contínua do IBGE, a aprovação do presidente é de apenas 16%.

Bolsonaro, desde o começo da pandemia, apostou que o baque no emprego e na pobreza viria para a sua conta. Mas ao invés de incorporar um plano para combater a covid, resolveu adotar a estratégia da imunidade de rebanho, forçando o contágio da população para que o vírus completasse o seu ciclo e parasse de circular.

O efeito colateral da estratégia foi de mais de 430 mil mortes.

A queda na aprovação poderia ser ainda pior, caso a maior parte da população soubesse que as férias do presidente da República em São Francisco do Sul (SC) e no Guarujá (SP) custaram R$ 2,3 milhões aos cofres públicos, o que poderia ter bancado um auxílio de R$ 600 a pelo menos 3,8 mil brasileiros por um mês.

Ou que seu governo baixou uma nova regra por canetada, possibilitando o acúmulo de remunerações e o pagamento acima do teto de remuneração de funcionários públicos que está na Constituição, que é hoje de R$ 39.293, 32. Com isso, Bolsonaro beneficiou a si mesmo e, de uma hora para outra. Queda de 75% para os mais pobres, aumento de 6% para ele mesmo. O aumento no salários de ministros será de até 69%.

Vale lembrar que o ministro da Economia já havia defendido que seu chefe deveria receber "muito mais do que recebe" em setembro de 2020.

O mesmo Paulo Guedes também reclamou de empregadas domésticas viajando para a Disney, em fevereiro de 2020, e questionou o filho de um porteiro recebendo financiamento estudantil em abril deste ano.

E olha que nem falamos aqui dos desvios dos salários de servidores públicos que trabalhavam no gabinete do presidente quando deputado federal e de seus filhos políticos, as chamadas rachadinhas.

O grupo que não está triste com o presidente e que, de tão restrito, não aparece nas pesquisas de opinião, são os bilionários.

De acordo com o ranking anual da revista Forbes, houve um aumento no número de bilionários no ano em que o Brasil foi assolado pela covid-19. A quantidade de bilionários por aqui foi de 45 para 65, com um aumento de patrimônio total de 72%: de 127,1 para 219,1 bilhões de dólares.

A oposição no Congresso Nacional e mesmo membros da base do governo discordam do valor do auxílio e apresentaram propostas para aumentar esse valor tirando receita dos mais diversos locais - até do cartão corporativo de Jair Bolsonaro.

Enquanto isso, a flexibilização do licenciamento ambiental, que coloca em risco a qualidade de vida desta e das futuras gerações e, inclusive, nossa economia, por trazer insegurança jurídica por anos, passou na Câmara por 300 votos a 122. A medida ajuda o naco anacrônico do empresariado e do agronegócio. Ou seja, não falta criatividade, mas pobre não é prioridade.