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Governo admite que ataque a cadastro de Boulos no SUS foi trabalho interno
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O Ministério da Saúde reconheceu que a alteração ilegal dos dados pessoais de Guilherme Boulos (PSOL) em seu cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS), revelado nesta segunda (19) por esta coluna, foi feita por "uma pessoa credenciada para utilizar o sistema" e não por um hacker.
"Cabe esclarecer que já foi solicitado o bloqueio da credencial usada nestas ações", afirmou o órgão ao UOL.
Diante da resposta, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) reclamou que não basta o governo Bolsonaro reconhecer que a alteração foi feita. "Eles precisam dizer quem é essa pessoa credenciada e o que será feito com relação a ela. Ou um servidor público poderá continuar alterando o cadastro de lideranças da oposição?"
Entre as mudanças feitas de forma ilegal, o nome de seu pai, o infectologista Marcos Boulos, integrante do comitê de contingenciamento do coronavírus no estado, foi trocado para "Kid Bengala". Imagens de Guilherme Boulos em protestos contra despejos foram colocadas no lugar de suas foto de identificação.
De acordo com pré-candidato do PSOL ao governo paulista, a informação de que já tomou a primeira dose da vacina contra covid-19 também não aparece no registro. Sobre isso, o ministério afirmou que as informações de vacinação disponibilizadas por meio do Conecte SUS Cidadão dependem dos registros enviados por estados e municípios.
"Não é um caso isolado. É um absurdo que tenha ocorrido alteração de dados de cadastro do SUS de lideranças de oposição", disse Boulos.
O caso acontece após a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ter lutado para provar que estava viva a fim de concluir a vacinação contra covid-19. Após receber a primeira dose, profissionais de saúde entraram em contato com a deputada federal informando que seu cadastro no SUS havia sofrido baixa por óbito.
"Ressuscitei no cadastro do SUS. Agora estou bem viva, meu CNS foi corrigido. Quero agradecer o empenho e atenção do pessoal do Centro de Saúde n° 5, Lago Sul, em Brasília, que se dedicou para corrigir. Vamos cobrar e acompanhar as investigações do Ministério da Saúde", tuitou Gleisi Hoffmann no dia 15, dois dias após o caso se tornar público.
Ataques de hackers também alteraram o cadastro dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT) e da ex-deputada federal Manuela d'Ávila, acrescentando xingamentos e distorcendo seus registros no ano passado.
"Temos visto pela CPI da Covid a forma como se dá a negociação de vacinas no Ministério da Saúde. Em meio a isso, há ataques à oposição através do cadastro do SUS", avalia Boulos.
"O bolsonarismo está se infiltrando de uma maneira miliciana em todos os âmbitos da administração pública. Está colocando as garras das milícias digitais, do Gabinete do Ódio, no SUS, patrimônio do povo brasileiro", afirma Boulos.