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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula lidera entre evangélicos após Bolsonaro dar o pão que o diabo amassou

                  - RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA E CAROLINA ANTUNES/PR
Imagem: RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA E CAROLINA ANTUNES/PR

Colunista do UOL

20/12/2021 18h55

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Apesar dos agrados que Bolsonaro tem feito a bispos e pastores, incluindo a indicação de André Mendonça ao STF, a participação em eventos religiosos e até ajuda nos problemas de igrejas fora do Brasil, parte considerável do eleitorado evangélico mostra que deve votar de olho no bolso, não só na bíblia.

Mesmo abraçando a agenda empunhada por algumas denominações, Jair marca apenas 33% entre os evangélicos no primeiro turno enquanto Lula faz 39%. No segundo turno, há um empate técnico, com o petista alcançando 46% dos evangélicos frente aos 44% do correligionário de Valdemar da Costa Neto.

Considerando a população em geral, Lula conta com 48% das intenções de voto diante de 22% de Bolsonaro e venceria no primeiro turno se a eleição fosse hoje.

Não é à toa que o atual mandatário aposte nos R$ 400 de pagamento do Auxílio Brasil para reconquistar os índices de popularidade que ostentava junto às famílias que ganham até dois salários mínimos no primeiro semestre do ano passado, quando o auxílio emergencial pagava R$ 600. Há uma boa parcela dos evangélicos nesse grupo, principalmente nas periferias de grandes cidades.

Ressalte-se que pobres, independentemente de serem evangélicos, pertencerem a outras denominações protestantes, professarem a fé católica, abraçarem religiões de matriz africana ou não terem fé alguma, rangem os dentes pela fome, pela queda na renda de mais de 11% em um ano, pela inflação em alta, pelo desemprego, a subocupação e os postos de trabalho de baixa qualidade. E muitos deles responsabilizam Bolsonaro pela situação.

Em matéria de Anna Virginia Balloussier, na Folha de S.Paulo, desta segunda (20), 39% dos evangélicos veem o governo como ruim e péssimo enquanto 53% da população tem essa opinião. O número é significativo porque Bolsonaro considera esse grupo como uma das bases de seu governo e trampolim para a reeleição.

É fato que a popularidade de Jair tende a melhorar com a retomada da economia e, com isso, dos empregos, e a volta a uma vida (quase) normal com a vacinação - não graças a ele, claro, que ainda hoje ataca imunizantes para adultos e os nega para crianças.

Mas uma coisa é uma melhora, a outra é competir com a memória de uma época em que a vida era melhor. Essa comparação vem sendo sistematicamente explorada pelo ex-presidente Lula, que terminou o seu segundo mandato com 83% de aprovação e 4% de reprovação, de acordo com pesquisa Datafolha de dezembro de 2010.

Nesta pesquisa de dezembro de 2021, o instituto apontou que Lula é visto como aquele que mais defende os pobres por 65% dos entrevistados, enquanto Bolsonaro fica com 17%. Enquanto isso, o atual presidente é visto por 34% como aquele que mais pensa em Deus antes de tomar decisões, frente a 30% de Lula.

Claro que uma parcela da população decide o voto pela ideologia. Mas uma coisa que o brasileiro já provou é ser pragmático principalmente em termos econômicos. Em 2006, por exemplo, Lula venceu Geraldo Alckmin e foi reeleito, apesar da repercussão do escândalo do mensalão. A economia estava crescendo e empregos eram gerados. Agora, com a carestia, o povão está diante do mesmo cálculo, mas com sinal trocado.