Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Hospital que trata feridos de campo de refugiados é bombardeado em Gaza

O hospital Al-Awda do campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, foi bombardeado, neste sábado (19), ferindo membros da equipe, alguns inclusive estão em estado crítico. O UOL havia publicado, um dia antes, uma entrevista com o diretor da unidade médica, Mohammed Salha, que relatou que o cerco imposto pelo exército israelense estava matando a população.

Salha enviou ao UOL, logo após o bombardeio, um apelo que está sendo distribuído internacionalmente pedindo para que os tratados que impedem o cometimento de crimes contra a humanidade sejam cumpridos.

"A Al-Awda pede à comunidade global, juntamente com organizações humanitárias e de direitos humanos, que tomem medidas imediatas e apliquem pressão sobre as forças de ocupação para cumprir os princípios humanitários estabelecidos no direito humanitário internacional, tratados e acordos, garantindo a segurança do pessoal e das instalações médicas", diz.

O hospital pede fornecimento de combustível para que geradores de energia elétrica e bombas de águas continuem funcionando, além de suprimentos médicos para hospitais no norte de Gaza. Também solicita autorização para o deslocamento de médicos, enfermeiros e técnicos do sul para o norte de Gaza.

"Isso é essencial para reforçar a capacidade dos hospitais de cumprir suas responsabilidades com os pacientes e feridos, especialmente à luz do aumento alarmante de vítimas resultantes das ações das forças de ocupação na área", conclui.

Correspondentes da rede Al Jazeera informaram que além do Al Awda, de Jabalia, também foram atingidos os hospitais Kamal Adwan e o hospital indonésio em Beit Lahiya.

O cerco de Israel à região de Jabalia já dura 16 dias, impedindo a chegada de água e comida. Bombardeios têm sido frequentes, como o que atingiu matou cerca de 30 pessoas na escola Abu Hussein. A equipe médica diz que o cheiro de morte impregna o campo de refugiados e que há feridos e mortos entre os escombros.

O exército israelense aponta que a operação visa a impedir o reagrupametno de combatentes do Hamas, mas o Ministério da Saúde do território, controlado pelo grupo, aponta que a maioria dos mortos eram civis. Entre eles, crianças, o que pode ser constatado pelas imagens que chegam dos hospitais.

O ataque terrorista do Hamas a Israel, no dia 7 de outubro de 2023, deixou mais de 1,1 mil mortos. A resposta do Benjamin Netanyahu deixou, até agora, 42,5 mil mortos em Gaza, entre eles 16,7 mil crianças. A Corte Internacional de Justiça analisa a acusação de que Israel vem praticamente genocídio no território palestino.

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Sob cerco de Israel, norte de Gaza espera pela morte

Entre os dias 16 e 17 de outubro, quando Mohammed Salha, diretor do hospital Al Awda, conversou com o UOL, mais de 40 feridos e quatro mortos chegaram à sua unidade oriundos do ataque à escola.

"Um dos operados é meu sobrinho, filho da minha irmã. Fizemos uma cirurgia abdominal nele e agora está salvo. Mas vai precisar de uma semana por aqui", diz. O problema é que o governo de Benjamin Netanyahu mandou todos evacuarem a região.

"Não é fácil evacuar o norte da Faixa de Gaza. Como essas pessoas sairiam? E para onde? Não há lugar para ir, não há área segura para ir em Gaza. Então, as pessoas preferem ficar em casa, mesmo que sejam bombardeadas e mortas", afirmou Salha.

Ele prometeu que, enquanto o hospital estiver de pé, continuará aberto.

"A situação humanitária no norte da Faixa de Gaza é horrível e muito dura. Não há comida, nem água filtrada. Em alguns lugares, nem há água potável. Temos também uma falta de medicamentos e suplementos médicos", disse o médico.

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Segundo eles, as forças de ocupação israelenses ordenaram, recentemente, que três hospitais fossem evacuados. "Estamos nos recusando a evacuar, porque oferecemos serviços de saúde para as pessoas seguindo os protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS), trabalhando na linha de frente de um conflito. Não podemos deixar nosso lugar", afirma.

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