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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Datafolha: Batalha no zap na reta final pode decidir se teremos 2º turno

Colunista do UOL

29/09/2022 19h49

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Lula e Bolsonaro oscilaram um ponto para cima, chegando a 48% e 34% dos votos totais, respectivamente, na pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta (29). No levantamento da semana passada, o petista já havia ganhado dois pontos, enquanto o atual presidente permaneceu estável.

Se Lula continuar crescendo lentamente até domingo, os outros concorrentes caírem (Ciro Gomes oscilou um ponto para baixo, chegando a 6%, e Simone Tebet manteve os 5%) e a abstenção não for proibitiva (o tamanho varia se fizer chuva ou sol, se empresários de ônibus sacanearem e suspenderem linhas, se cair um asteróide ou ocorrer um tsunami, se houver violência política nas ruas...), a eleição pode ser decidida no primeiro turno.

Hoje, do ponto de vista dos votos válidos, ou seja, excluindo brancos, nulos e indecisos, ficou tudo igual em comparação à semana passada, com Lula marcando 50% e Bolsonaro, 36%. E Lula precisaria de uma margem de segurança maior para liquidar a fatura no domingo considerando o imponderável.

Essa situação de indefinição sobre um segundo turno na campanha presidencial fará com que os celulares dos brasileiros sejam inundados, nos próximos três dias, via aplicativos de mensagens e redes sociais, com uma quantidade absurda de mentiras a fim de tentar garantir a realização de um segundo turno.

Desde domingo, a campanha do presidente aumentou consideravelmente os disparos sobre as urnas eletrônicas e as pesquisas eleitorais, buscando aumentar a desconfiança sobre o sistema eleitoral e reduzir o "voto em quem está ganhando", quando o candidato é escolhido só porque está na frente. Sim, é esquisito, mas acontece.

Também cresceu o número de ataques, reciclando denúncias de corrupção contra Lula e tentando demonizar o petista a fim de afastar os indecisos e evitar a migração de voto útil. Isso, contudo, tem efeito limitado. Todos os canhões das campanhas bolsonarista e cirista não conseguiram elevar significativamente a rejeição do petista - que está nos mesmos 39% desde 1º de setembro, enquanto Bolsonaro não saiu dos 52%. Nesta reta final, ressuscitaram até o caso Celso Daniel - que tem efeito reduzido porque é mentira velha.

Mas as mensagens também tentarão fazer com que parte do eleitorado não saia de casa para votar. Há um esforço para amedrontar os eleitores de Lula. Por exemplo, mensagens afirmando que, se Bolsonaro não for eleito em primeiro turno, haverá invasão do Congresso e do STF, foram disparadas às centenas de milhares no Paraná. Além disso, mensagens que ameaçam sangue se ele não ganhar também chegaram em comunidades no Rio de Janeiro.

A violência política durante a votação deve ser mínima - se houver brigas e tumultos, eles ocorrerão após os resultados das urnas forem conhecidos. Mas o discurso do medo se torna uma arma poderosa para aumentar a abstenção.

No levantamento do Datafolha na semana passada, entre os eleitores de Lula, 10% afirmavam que podem deixar de votar temendo a violência política no dia das eleições. Entre os bolsonaristas, essa taxa cai para 5%. Ou seja, os seguidores do atual presidente desfrutam de uma sensação de segurança no país que não é compartilhada pelos apoiadores do petista.

A campanha de Lula, que já se preocupava com o impacto da abstenção tradicional em sua tentativa de liquidar a fatura no primeiro turno, também acendeu o alerta para a abstenção provocada pelas ameaças e as histórias de assassinatos de petistas por bolsonaristas em meio a brigas políticas.

E esse medo também impede que eleitores saiam com camisas de seus candidatos, coloquem adesivos nos carros e prendam bandeiras em janelas, reduzindo a visibilidade da campanha do petista nos próximos três dias. Pessoas foram agredidas e apartamentos se tornaram alvos de tiros simplesmente porque defenderam o "candidato errado".

O debate da TV Globo, na noite desta quinta, é importante. Mas a menos que alguém traga uma bomba inédita e de grande potencial destruidor ou que alguém se exploda falando uma besteira monumental, ele não será tão decisivo quanto a batalha de medo e de mentiras a ser travada nas redes sociais e aplicativos de mensagens nos próximos três dias. Essa guerra suja é que, de fato, pode decidir a eleição.