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Para bajular Bolsonaro de olho no STF, Moro abraçou farsa do voto impresso
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Para conseguir uma indicação a uma vaga ao Supremo Tribunal Federal em um eventual segundo mandato de Bolsonaro, Sergio Moro faz tudo, até atacar instituições democráticas. O ex-juiz e ex-ministro sugeriu adotar o voto impresso para "eliminar a desconfiança sobre o sistema eleitoral" em entrevista à CNN Brasil nesta quinta (27).
O senador eleito pelo Paraná, claro, não explica que a "desconfiança" reside nos seguidores do presidente após mentiras plantadas por ele nos últimos anos para questionar o resultado das eleições, caso seja derrotado. A esmagadora maioria dos brasileiros (79%, segundo o Datafolha) confia no sistema atual.
Coincidentemente, a introdução da impressão do voto para controle físico da urna eletrônica era proposta do próprio Bolsonaro, ainda como deputado federal. Ou seja, estreando no Congresso, Moro segue os passos do ex-chefe ao questionar a eficácia comprovada do sistema eleitoral.
Mesmo reconhecendo à CNN que não houve registro de fraude em eleições passadas, Moro disse: "Se tem esse debate tão profundo, eu acho que, para as próximas eleições, valeria discutir como aprimorar o sistema de controle. Talvez um voto impresso percentual, de 5% urnas, para permitir uma espécie de conferência".
Novamente, o debate só existe por conta das mentiras de Bolsonaro.
Para ele, isso não significaria o não-reconhecimento do resultado das eleições, mas acredita ser importante discutir a questão para "eliminar esse debate e essa desconfiança sobre o sistema eleitoral".
O bolsonarismo cria a desconfiança onde antes não havia e para acabar com ela, propõe um retrocesso no sistema eleitoral, tornando-o, dessa forma, mais propenso a fraude. E Moro reforça o argumento tosco, ajudando novamente na caminhada de Bolsonaro em uma eleição presidencial.
Bolsonaro já apontou que vai usar três grandes mentiras conspiratórias para questionar o resultado, caso perca no domingo: uma envolvendo as urnas eletrônicas, a outra os institutos de pesquisa e uma terceira, sobre a veiculação de propaganda em rádios - surgida após o bolsonarista Roberto Jefferson tentar matar dois policiais federais.
O atual presidente ganhou, em 2018, graças ao então juiz federal que tirou Lula, o favorito nas pesquisas, do páreo ao mandá-lo para a cadeia - depois, veja só, foi escolhido como ministro da Justiça. A condenação acabou extinta pelo Supremo Tribunal Federal que verificou a existência de falhas graves no processo. E Moro foi declarado como tendo sido parcial no julgamento do petista.
O ex-ministro já havia deixado seu orgulho de lado e no afã de conseguir a única vaga em disputa no Senado pelo Paraná, tornou-se cabo eleitoral do ex-chefe. Mesmo que ele tenha acusado Bolsonaro de corrupção e denunciado sua mão peluda sobre a Polícia Federal para proteger familiares e amigos. E mesmo tendo sido chamado de "mentiroso deslavado", "sem caráter", "palhaço" e "idiota" pelo presidente.
Depois, já no segundo turno, ele apareceu como assessor para assuntos aleatórios de Jair no debate realizado pelo UOL, Folha, Band e Cultura. Tamanha bajulação provocou críticas até de procuradores que participaram da operação Lava Jato.
Em nome de seu sonho de poder, Moro reforça que é capaz de tudo. E se a democracia estiver no meio do caminho, ela que se cuide.