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Valdemar descreve Bolsonaro como um palerma e 'lança' Michelle presidente
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Uma pessoa estúpida, frágil, hipossuficiente e que vive em um universo paralelo. Essa é a imagem que fica de Jair Bolsonaro para quem lê as declarações dadas pelo líder do seu partido, o PL, Valdemar da Costa Neto, à repórter Jussara Soares, no jornal O Globo, desta sexta (27).
Ao justificar o longo silêncio do ex-presidente diante dos pedidos de autogolpe que vinham de seus seguidores, Valdemar descreveu Jair como uma criança que precisa ser tutelada. Uma criança que precisa ser preparada para não ficar em choque com uma má notícia.
"Isso pode ter sido um erro meu, dos políticos, que não o preparamos para uma possível derrota", diz.
E descreve um cenário que não é compatível com quem tentou passar, por décadas, a imagem de um homem que bate e arrebenta: "Quando fui lá na segunda [após o segundo turno], ele estava um pó. Quando eu o vi após uma semana, eu achei que ele ia morrer. O cara estava desintegrando. Passaram três ou quatro semanas, e vi que ele melhorou. Perguntei o que era, e ele disse que estava comendo, porque ele ficava quatro ou cinco dias sem comer nada".
Sobre a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, preso por ordem do STF por omissão diante do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, no dia 8, Valdemar disse que elas surgiram aos montes após a eleição.
"Como o pessoal acha que ele é muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe. Ele não fez isso porque não viu maneira de fazer", diz.
O naco da sociedade crítico a Bolsonaro sempre o tachou de "alterado" e "louco", mas isso ganha outra conotação quando o líder de seu próprio partido reconhece que é assim que a população o vê.
Mais do que isso, Valdemar reconhece que Bolsonaro só não deu o golpe porque "não viu maneira de fazer". Alexandre de Moraes e os demais ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que estão analisando ações que podem levar à inelegibilidade do ex-presidente, já devem ter incluído a entrevista nos autos dos processos a esta hora.
A função que Valdemar vê para Jair não é de líder da oposição a Lula, mas de bedel da extrema direita que domina quase metade da bancada do PL.
"Quero que ele volte, porque ele é muito importante para nós. Por exemplo, para conduzir essa bancada de direita que nós temos aqui. O pessoal é muito extrema direita. Com Bolsonaro aqui, eu estou no céu. Eles ouvem Bolsonaro. Não vão ouvir a mim", explica.
E para que não ficassem dúvidas sobre isso, a repórter ainda questionou os planos do PL para o ex-presidente. "Cuidar desse pessoal e viajar, ser convidado para todos os eventos, e começar a pôr a vida em dia", foi a resposta.
A perspectiva é diferente, contudo, para Michelle Bolsonaro.
"Ela tem condições. Ela pode ser candidata até a presidente da República. Ninguém sabe o dia de amanhã", profetizou Valdemar. A ex-primeira-dama chegou, na noite desta quinta, a Brasília, deixando o marido na Flórida, onde se refugia com medo da Justiça brasileira.
Condenado no escândalo do mensalão, Valdemar abraçou o bolsonarismo e filiou o então presidente a seu partido. Ganhou com isso a maior bancada da Câmara dos Deputados nas eleições, com 99 parlamentares - e, portanto, o maior fundo partidário e eleitoral.
Como pedágio, ele se tornou peça-chave no ataque ao Estado democrático de direito perpetrado pelo bolsonarismo.
O PL entrou com uma ação junto ao TSE para tentar cancelar 59% dos votos apenas no segundo turno a fim de evitar a vitória de Lula. Valdemar fez um malabarismo risível para justificar que as mesmas urnas eletrônicas eram confiáveis no primeiro turno, quando elegeram senadores e deputados do PL. O ministro Alexandre de Moraes não apenas negou o pedido, como impôs uma multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé.
Valdemar prometeu casa, advogado e um gordo salário para bancar Jair e Michelle. Com o ex-presidente morando às portas da Disney, já desistiu do aluguel.
Ao reduzir a importância de Jair após 30 de outubro, o presidente do PL ajuda na defesa do aliado, mas também prepara terreno para que o seu partido dialogue com o governo Lula, quiçá com cargos e vantagens no futuro. O mundo passa, mas Valdemar sobrevive.