Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quase inelegível, Bolsonaro insiste que lulistas quebraram Brasília em 8/1

Colunista do UOL

27/06/2023 10h40

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Bolsonaro dividiu os atores golpistas do 8 de janeiro em dois grupos em entrevista à Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo desta terça (27): "senhorinhas com uma Bíblia debaixo do braço e senhorzinhos com a bandeira do Brasil nas costas", de um lado, e apoiadores de Lula infiltrados que destruíram as sedes dos Três Poderes, do outro. "Está mais do que comprovado que o quebra-quebra foi do pessoal deles [lulistas]", mentiu.

Pois bem, uma das tais "senhorinhas" era Dona Fátima, de Tubarão (SC).

Ela ficou famosa ao ser presa na terceira fase da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal. Vestida com uma bandeira do Brasil, ela é exaltada em um vídeo gravado pelos próprios golpistas por estar "quebrando tudo". No que responde: "Vamos para a guerra, vou pegar o Xandão agora!", em referência ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Antes do envolvimento nos atos golpistas, Dona Fátima foi condenada por tráfico de drogas (crack), usando jovens menores de idade, em 2014. Também tentou fraudar o INSS e usou documentos falsos. Nas redes, defendia o voto impresso e criticava a urna eletrônica, repetindo as palavras do "mito".

Claro que nem todos os golpistas tinham a capivara de Dona Fátima. Mas ao insistir que as depredações do 8 de janeiro foram executadas por lulistas e petistas infiltrados, Bolsonaro ofende profundamente não apenas a razão e a realidade, mas o seu rebanho.

Vídeos mostram seguidores do ex-presidente extremamente orgulhosos do que estavam fazendo, acreditando estarem salvando o Brasil de uma ditadura gayzista-comunista-globalista-naturalista-republicanista. Débora Rodrigues dos Santos, por exemplo, estava em júbilo quando pichou "perdeu, mané" na estátua que representa a Justiça em frente ao STF.

Quando a Polícia Militar começa a agir no 8 de janeiro, já sob intervenção do secretário-executivo do Ministério da Justiça Ricardo Capelli, o coronel da reserva Adriano Testoni, bolsonaristas de carteirinha, gravou um vídeo reclamando dos generais que não estavam dando um golpe. "Bando de generais filhas da puta. Vão tudo tomar no cu. Vanguardeiros de merda. Covardes. Olha o que está acontecendo com a gente. Esse nossa Exército é uma merda", afirma.

A PF cruzou os vídeos com as redes sociais dos envolvidos e, surpresa, não eram petistas infiltrados, mas bolsonaristas-raiz.

Na entrevista, Jair disse que seu seguidor que plantou uma bomba em um caminhão de combustível para explodir o Aeroporto de Brasília era apenas um "imbecil", a imagem do vândalo com um camiseta com o seu rosto foi propositadamente divulgada por Lula e nenhum quebra-quebra ocorreu pelas mãos de quem estava acampado na frente do Quartel-General do Exército, apesar do local ter sido usado como cabeça de ponte para o ataque à Praça dos Três Poderes e depois como esconderijo de vândalos.

No Bolsoverso, o universo paralelo construído a partir das narrativas de Jair, a culpa é sempre do PT.

Prestes a ser impedido de disputar eleições por oito anos devido a crimes cometidos, em ação que volta a ser julgada nesta terça, Bolsonaro continua empurrando para longe de si toda e qualquer prova das ações que efetivamente cometeu. Golpistas são sempre os outros.

O problema é que isso deve colar com pessoas como a Dona Fátima de Tubarão, mas não com a maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral.