Leonardo Sakamoto

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Opinião

General de pijama liga forças especiais do Exército a atos golpistas de 8/1

O general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, alvo da 18ª fase da Operação Lesa Pátria, nesta sexta (29), pode confirmar que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe planejada e executada com a ajuda de membros das forças especiais do Exército - do qual ele fazia parte.

Quem acompanhou os atos golpistas, com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, percebeu que determinadas ações não condiziam com uma turba amalucada e amadora. A forma como derrubaram as grades e as usaram posteriormente como escada para acessar o Congresso por entradas de ventilação ou mesmo a maneira como ocorreu o avanço sobre a Esplanada dos Ministérios tendo o acampamento em frente ao quartel-general do Exército como cabeça de ponte ou ainda o enfrentamento ao gás disparado pela Polícia Militar indica gente com treinamento militar especial.

O objetivo nunca foi tomar o poder através da turba, mas criar uma justificativa para uma intervenção militar com a desculpa de reestabelecer a ordem. E, daí, derrubar o resultado das eleições e trazer de volta Jair ao poder. Minutas golpistas para embasar isso já estavam prontas, inclusive, tendo sido achadas pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e no celular do tenente-coronel Mauro Cid.

Ridauto participou dos atos golpistas e a investigação aponta que ele pode ser um dos seus organizadores. Seu último cargo público foi o de diretor de Logística do Ministério da Saúde durante a pandemia de covid-19, mas ele chegou a ocupar chefia no Comando de Operações Especiais. Ele é um "kid preto", como são chamados os que fazem o curso das forças especiais, elite do Exército.

Também fazem parte dessa elite outros nomes importantes do governo Bolsonaro, como Mauro Cid (ex-faz-tudo de Jair), o general Luiz Eduardo Ramos (ex-ministro-chefe da Casa Civil), o general Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde e hoje deputado federal), o coronel Élcio Franco (ex-secretário executivo da Saúde) e o general Dutra (ex-chefe do Comando Militar do Planalto).

Vale lembrar, inclusive, que conversas obtidas pela Polícia Federal dos celulares dos envolvidos mostram Franco e o major Aílton Barros discutindo as possibilidades para um golpe de Estado diante da negativa do comandante do Exército, general Freire Gomes, em participar.

"Esse Alto Comando de merda. que não quer fazer as porras, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens", diz Barros.

Outros grupos de elite da Forças Armadas também foram citados nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.

Um dos bolsonaristas condenados por plantar uma bomba para tentar explodir um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, Alan Diego dos Santos, afirmou à Polícia Civil do Distrito Federal que um grupo bem treinado de militares da reserva se ofereceu para fabricar e instalar o explosivo.

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Mas, segundo o terrorista, como os "Boinas Vermelhas" queriam cobrar pelo serviço, ele resolveu fazer e colocar o explosivo por conta própria com a ajuda de George Washington de Sousa. Tal como Alan, o homônimo do primeiro presidente dos Estados Unidos foi condenado e preso. Como todos sabemos, a bomba plantada no caminhão-tanque feita por amadores deu chabu.

Se tivesse explodido e matado centenas no aeroporto, isso seria usado como gatilho para detonar uma intervenção dos militares.

Um relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), de 27 de dezembro, ou seja, três dias após o atentado que flopou, alertou para a presença do grupo extremista de militares da reserva no acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Eles teriam se apresentado como membros da reserva das Brigadas de Infantaria Paraquedista do Exército. Os dados foram enviados à CPMI dos Atos Golpistas.

O material apreendido pela PF na operação de busca e apreensão contra Ridauto Lúcio Fernandes, um general de pijama, pode ajudar a esclarecer quais militares das forças especiais, da ativa e da reserva, participaram do plano. E reforçar o que todos já sabem: que o 8 de janeiro não foi uma manifestação popular espontânea, mas uma tentativa estruturada para manter Bolsonaro e os militares no poder.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL