Leonardo Sakamoto

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Reportagem

UFC leva os bombardeios contra Gaza para dentro do octógono em Abu Dhabi

Às vésperas do UFC 294, que acontece, neste sábado (21), em Abu Dhabi, nomes muçulmanos do MMA têm vindo a público demonstrar seu apoio aos palestinos por causa do cerco e bombardeio de Israel em resposta ao ataque terrorista do Hamas. O número de mortos em Gaza ultrapassou 4.000 (metade dos quais, crianças) — em Israel, são 1.400.

O evento esportivo, que será um dos mais assistidos do ano, deve ser visto por milhões de muçulmanos por estar sendo realizado no Oriente Médio. O que significa mais pressão sobre Israel em um momento em que o país se prepara para invadir Gaza, agravando a crise humanitária.

"O card deste evento apresentará vários atletas russos e muçulmanos, com a expectativa de que muitos deles mostrem seu apoio à Palestina ao entrar no octógono carregando bandeiras representativas", afirma o antropólogo Juliano Spyer, colunista da Folha sobre religião e fã do UFC.

Spyer aponta, como exemplos, Islam Makhachev, atual campeão da categoria peso-leve (até 70 kg), que enfrentará o australiano Alexander Volkanovski em uma luta que valerá o título dessa divisão.

Na categoria meio-pesado, Khamzat Chimaev, nascido na Chechênia e naturalizado sueco, enfrentará o nigeriano Kamaro Usman, ex-campeão da divisão do UFC.

Chimaev postou, nesta sexta (20), para os seus 6,2 milhões de seguidores no Instagram uma foto segurando uma bandeira da Palestina junto com Belal Mohamed, norte-americano, filho de pais palestinos, e também lutador do UFC. A imagem já conta com 371 mil curtidas e quase 8 mil comentários.

Estará no evento, mas como espectador, o daguestanês Khabib Nurmagomedov, uma lenda viva do MMA, que se aposentou invicto com 29 vitórias e nenhuma derrota na categoria peso-leve. Ele é um dos atletas mais populares tanto na Rússia quanto nos países islâmicos e foi o primeiro muçulmano campeão do UFC.

Nurmagomedov vem usando as redes sociais para condenar os ataques de Israel a Gaza. Postou, por exemplo, a seus 35,4 milhões de seguidores no Instagram uma dura crítica à destruição do hospital Al-Ahly em Gaza, que matou cerca de 500 pessoas.

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"Bombardear um hospital cheio de crianças e refugiados não é um caminho para a paz. É genocídio", afirmou em uma imagem que conta com mais de 950 mil curtidas.

E completou: "Alá nos perdoe e a todos os nossos irmãos e irmãs na Palestina. Que Alá os fortaleça no verdadeiro caminho e lhes conceda paciência. Ninguém merece ser bombardeado só porque nasceu onde nasceu".

Evento no Oriente Médio chama a atenção à causa palestina

Diogo Silva Corrêa, professor visitante da École des Hautes Études en Sciences Sociales e professor titular do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade de Vila Velha, também afirma que essas manifestações vão no sentido contrário do que tem se visto no ambiente do UFC.

"Não faz muito tempo que o mundo do MMA, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tem se tornado um terreno fértil para manifestação de posições políticas de extrema-direita. Alguns lutadores brasileiros, como José Aldo e Paulo Borrachinha, ganharam notoriedade como apoiadores declarados do ex-presidente Jair Bolsonaro", diz.

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Segundo ele, "o presidente do UFC, Dana White, assim como Colby Convington, sempre fizeram questão de tornar público o apoio a Donald Trump".

Para Corrêa, isso não é algo aleatório ou ocasional. "Existe de fato uma afinidade eletiva entre o masculinismo ostentório próprio ao meio do MMA e o conservadorismo dos costumes propalado pela extrema-direita no Brasil e nos EUA", explica.

O UFC 294, portanto, promete transpor a batalha para além dos limites do octógono.

"Pelo fato de o plantel do UFC ser composto de muitos lutadores de religião islâmica, o atual conflito tem trazido à tona um apoio público por partes destes à causa palestina, algo tradicionalmente associado à esquerda e aos setores progressistas", afirma.

"Caso os muçulmanos Islam Makhachev e Khamzat Chimaev saiam vencedores, poderemos ver uma inédita luta no UFC, não na arena física do Etihad Arena, mas a arena política e midiática em torno do conflito Israel e Palestina", conclui.

Juliano Spyer avalia que tudo isso deve passar abaixo do radar para uma parcela dos progressistas.

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"É provável que isso passe despercebido para intelectuais de esquerda, que geralmente não têm interesse em esportes de combate, especialmente no UFC, por vezes é erroneamente associado à ideia de 'vale tudo'. Mas que tende a atrair a atenção de homens jovens, com idades entre 18 e 36 anos, e que têm inclinações políticas de direita", avalia.

"O ex-presidente e atual pré-candidato republicano, Donald Trump, é notório fã do UFC e costuma prestigiar o evento. Essa falta de interesse por parte da esquerda pode resultar na subestimação da exposição que os atletas proporcionarão à situação de conflito em Israel", diz.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.