Leonardo Sakamoto

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Opinião

De barriga cheia após engolir a Caixa, Centrão vota por taxar super-ricos

Tão logo o governo Lula sacrificou a presidente da Caixa, Rita Serrano, no altar do Centrão, nesta quarta (25), entregando o comando do banco para um indicado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), dádivas começaram a ser recebidas. O projeto defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para taxar os super-ricos, que pagam menos impostos usando offshores e fundos exclusivos, foi aprovado em plenário.

Milagre? Não, política. Centrão de barriga cheia é centrão que vota.

Foram 323 votos de deputados federais a favor do texto-base e 119 contra. Com isso, o governo Lula acredita que pode arrecadar R$ 20 bilhões a mais para reduzir o déficit nas contas públicas e garantir mais justiça tributária.

A troca já estava prevista e discutia-se se a entrega seria de porteira fechada, com o Centrão decidindo quem seriam os diretores que influenciam na liberação de recursos para políticas públicas ou se o governo manteria o poder de decisão, considerando o papel estratégico da Caixa para os projetos de Lula, como os benefícios sociais e o Minha Casa, Minha Vida.

Foram três aliados pelo governo no altar do Centrão até agora. Além de Serrano, demitida para fazer caber Carlos Antônio Fernandes, também tivemos Ana Moser, que saiu do Ministério do Esporte para a entrada de André Fufuca (PP-MA). E no Ministério dos Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), deslocado para dar lugar a Silvio Costa Filho (Republicanos).

Cabe também nessas trocas em busca de voto, a saída de Daniela Carneiro (União Brasil), que, junto com seu marido, Waguinho, apoiou Lula durante a campanha eleitoral na Baixada Fluminense, para a entrada do seu correligionário Celso Sabino - que representa mais os interesses da bancada do partido no Congresso.

Por enquanto, só quem acredita em Papai Noel, no Coelho da Páscoa e no Saci acha que o apetite do Centrão vai se conformar com o que foi entregue. Quando vierem votações importantes ou quanto mais próximo estivermos da eleição municipal de 2024, certamente ocorrerá pressão pela liberação de recursos de emendas.

A fatura também pode vir na forma de mais cargos (desde que sejam responsáveis por executar obras nos municípios) ou mesmo para controlar nacos maiores do orçamento da União. O olho gordo em cima do Ministério da Saúde, por exemplo, nunca piscou.

E quanto mais frágil estiver o governo federal diante da opinião pública, mais cara será a fatura para a aprovação de projetos. Na área econômica, claro, porque o governo dificilmente terá maioria para aprovar propostas de avanços na área de direitos fundamentais.

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A aprovação do governo Lula estava em 60%, em agosto, passou a 54%, agora, segundo levantamento Genial/Quaest, divulgado nesta quarta. A desaprovação foi de 35% para 40%. A margem de erro é de 2,2 pontos. Não é alarmante, mas um recado.

Apesar de a inflação estar controlada e o desemprego estar em queda, há uma expectativa negativa da população com a inflação no futuro. A pesquisa aponta descontentamento por conta de altas nas tarifas de serviços e no preço do combustível.

Quanto pior estiver a aprovação, mais sacrifícios serão demandados. E tudo o que o governo não quer é ter que cortar na própria carne.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL