Lula demite presidente da Caixa após pressão do centrão e nomeia economista

O presidente Lula (PT) demitiu hoje a presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, como parte de acordo com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e o centrão.

O que aconteceu

Os dois se reuniram nesta tarde no Palácio do Planalto. Segundo a Secom (Secretaria de Comunicação Social), Lula "agradeceu pelo seu trabalho e dedicação no exercício do cargo".

O economista e funcionário de carreira Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira, assumirá o cargo. Ele já foi diretor-presidente da Funcef, o fundo de pensão da Caixa, e integrou a secretaria-executiva do Ministério da Integração Nacional em 2012, quando o PP comandava a pasta.

O cargo é a última parte do combinado entre o governo e partidos do centrão no esforço de aumentar o apoio no Congresso. Em setembro, Lula já havia entregado os ministérios do Esporte e Portos e Aeroportos para PP e Republicanos, mas as pastas eram consideradas pouco para o centrão.

Serrano cumpriu na sua gestão uma missão importante de recuperação da gestão e cultura interna da Caixa Econômica Federal, com a valorização do corpo de funcionários e retomada do papel do banco em diversas políticas sociais, ao mesmo tempo aumentando sua eficiência e rentabilidade, ampliando os financiamentos para habitação, infraestrutura e agronegócio.
Secom, por meio de nota

O banco é o principal fomentador de iniciativas do governo federal e o trabalho de Rita é bem avaliado pelo Planalto, o que fez com que Lula a segurasse por mais tempo. Também há uma disputa pelas vice-presidências do órgão, que influenciam nas nomeações locais, mas este assunto ainda não foi decidido.

Serrano é a terceira mulher no alto escalão do governo a ser substituída por um homem. Anteriormente, Lula já trocou Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo e Ana Moser por André Fufuca no Esporte.

Lira tem pressionado o governo pelo cargo desde junho, quando ainda se debatia a minirreforma ministerial. Nos últimos dias, no entanto, uma exposição na Caixa Cultural de Brasília que mostra a foto do presidente da Câmara em uma lata de lixo elevou a temperatura.

A decisão também vem como um alívio para os articuladores do governo, em especial o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Tanto ele quanto o presidente já haviam apalavrado a mudança com Lira e as idas e vindas vinham criando situações delicadas: quanto mais demorava, mais o ministro era questionado.

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Exposição aumentou pressão

A pressão pela saída de Serrano aumentou nos últimos dias após uma exposição na Caixa Cultural de Brasília que traz imagens de Lira, da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e do ex-ministro da Economia Paulo Guedes em uma lata de lixo.

O incômodo gerado com a exibição, somado à demora nas indicações para a Caixa e a Funasa e a liberação de emendas, fez com que a votação dos projeto de lei que tributa os fundos dos super-ricos e as offshores fosse adiada novamente. A proposta, que integra a lista de projetos econômicos do governo para alcançar a meta do déficit zero em 2024, estava programada para ser votada ontem.

Após a troca e com a anuência de Lira, a Câmara vota hoje o projeto.

A obra com a imagem de Lira foi assunto durante uma reunião entre o presidente da Câmara e alguns líderes. Na ocasião, o deputado alagoano recebeu a solidariedade das lideranças e na avaliação delas "não houve leitura política" antes de autorizar a exposição.

Disputa por influência local

O principal entrave para a mudança na Caixa eram as vice-presidências. Antes, era dito em voz alta no Planalto que dariam "o que o PP quer" - ou seja, o cargo de Rita Serrano —, mas manteriam os cargos auxiliares que, na prática, realizam os serviços nos estados.

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O banco é também considerado estratégico para o governo federal por ser o meio condutor dos seus dois principais programas sociais: o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, acoplado ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Entregar as vice-presidências e os comandos estaduais, como quer o centrão, seria, para o governo, entregar também o rumo e a influência destes investimentos nos estados. Isso se torna extremamente sensível às vésperas das eleições municipais, onde os partidos buscam mais do que nunca qualquer tipo de influência local.

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