Mais de 9 milhões apoiarem a tentativa de golpe de 8/1 é alerta a otimistas
A quantidade de brasileiros que apoia os atos golpistas de 8 de janeiro do ano passado é de 6%. Considerando que os entrevistados da pesquisa Genial/Quaest tinham 16 anos ou mais, ou seja, a faixa dos que estão aptos a votar, isso dá cerca de 9,5 milhões de pessoas.
Pouco se comparado com o Brasil (203 milhões), e é insuficiente para sustentar um golpe, mas ainda assim é mais que toda população de Santa Catarina e de Rondônia reunida apoiando a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em meio a uma tentativa de golpe de Estado.
Multidão que pode ajudar a desestabilizar a democracia através da propagação de mentiras, do bloqueio de estradas, da violência civil organizada.
O golpe felizmente acabou fracassando. Mas seu espírito está ali, à espera de um tropeço das instituições e da sociedade tanto quanto da impunidade dos envolvidos no 8 de janeiro, sejam, eles civis ou militares.
O número oscilou no limite da margem de erro de 2,2 pontos percentuais entre fevereiro de 2023 (4%) e agora (6%). Um mês depois da tentativa de golpe, eram 94% os que desaprovavam as invasões, agora são 89%. E os que não souberam ou quiseram responder foi de 2% para 4%.
Por coincidência, o grupo que apoia os atos golpistas é quase do mesmo tamanho dos que abraçam a ditadura no Brasil.
Quase três em cada quatro (74%) preferem a democracia, enquanto democracia e ditadura são indiferentes para 15%. Já para 7%, a ditadura pode ser melhor que a democracia, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 21 de dezembro.
Os números contra a tentativa de golpe e a favor da democracia parecem vistosos e são bons para políticos baterem no peito e dizerem que o país não aceita aventuras autoritárias. O que deve, aliás, ocorrer, nesta segunda (8), dia que a ignomínia completa um ano e será lembrada em um evento no Congresso. Mas esse ufanismo esconde problemas.
O número dos que acreditam que Jair Bolsonaro teve algum tipo de influência nos atos golpistas foi de 51% para 47%, de fevereiro de 2022 até agora, e os que acham que não teve passou de 38% para 43%, segundo a Genial/Quaest.
Claro que 76% dos que votaram em Lula no segundo turno veem a mão de Jair no caso e 81% dos que votaram no ex-presidente consideram-no inocente.
Isso é fruto da polarização que faz com que fatos sejam ignorados em nome de narrativas. Até porque Bolsonaro deixou bem claro que não aceitaria sua derrota e atacou o STF e o TSE, espancou o sistema eleitoral brasileiro, fomentou ações contra o resultado das urnas e tentou cooptar os comandantes das Forças Armadas.
Não à toa, o STF e a Polícia Federal têm ido com cuidado nas investigações, buscando reunir um conjunto robusto de provas antes de julgá-lo.
Para além disso, é um tanto quanto perigoso afirmar que os 74% que dizem apoiar a democracia colocam isso de fato em prática. Sim, esse número precisa ser relativizado, pois há quem abrace governantes autoritários achando que está louvando democratas.
Entre os que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro, invadindo e vandalizando as sedes dos Três Poderes, muitos acreditavam estar em uma luta cívica para impedir um governo ditatorial chegar ao poder e garantir a permanência de um democrata. Não percebiam que estavam, pelo contrário, agindo como golpistas para que a vontade da maioria nas urnas fosse subjugada às necessidades de um autocrata.
Precisamos que a História da tentativa de golpe de Estado bolsonarista de 8 de janeiro de 2023 seja discutida nas escolas, tal como precisamos que a História da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985 continue a ser contada, a fim de que nunca esqueçam que a liberdade do qual desfrutamos não veio de mão beijada.
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Quero receberIsso deve permanecer acima de partidos políticos, pois é questão de sobrevivência como país.
Se assim for feito, talvez seja possível evitar que o número dos que apoiam os crimes ocorridos em 8 de janeiro cresça a ponto de uma parcela significativa dos brasileiros normalizar, relativizar e desejar o golpe.