Golpe de Bolsonaro livraria Moro de vexame da cassação e o levaria ao STF?
O senador Sergio Moro deve ter o mandato cassado por abuso de poder econômico na eleição de 2022, seja pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, seja pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou pelos dois. A lição deixada pelo episódio não é apenas de que ninguém está acima da lei, mas também de que não teremos total compreensão das consequências para o país se Bolsonaro tivesse sido bem-sucedido no golpe que planejou.
Moro entrou na política eleitoral ainda usando toga. À frente da Lava Jato, o paranaense de Maringá condenou Lula, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro ao tirar o petista da eleição de 2018 e mantê-lo preso por 580 dias. Foi escolhido ministro da Justiça e da Segurança Pública - cargo que ele acreditava ser um pedágio que ele pagaria em direção ao STF.
A lógica fazia sentido. Com Lula, três presidentes da República consecutivos indicaram ministros da Justiça à Suprema Corte. O petista apontou Flávio Dino para a vaga de Rosa Weber, Bolsonaro avalizou André Mendonça (que passou pela pasta e estava como advogado-geral da União) e Michel Temer quis Alexandre de Moraes. Se incluirmos todo o período pós-redemocratização, Itamar Franco indicou Maurício Corrêa, Fernando Henrique colocou Nelson Jobim e José Sarney ungiu Paulo Brossard.
No meio do caminho, uma briga. Ele deixou o governo Bolsonaro em 2020, acusando o ex-chefe de interferência na escolha do superintendente da Polícia Federal no Rio. Em depoimento sobre o caso, em 3 de novembro de 2021, Jair disse que Sergio condicionou a troca no comando na PF à sua indicação ao STF. Na época, o já ex-ministro disse que isso era mentira e que não trocava "princípios por cargos". Alguns acreditaram.
Mas com a Vaza Jato revelando mensagens que mostraram Moro combinando o jogo da condenação de Lula com procuradores da força tarefa da Lava Jato, ele teve seu trabalho anulado por um STF que se dividia entre ministros que nunca confiaram nele e outros que se sentiram traídos por ele. Ironia do destino, Cristiano Zanin, advogado do petista no caso, com quem o então juiz teve embates ao longo do processo, assumiu a primeira vaga de no STF liberada na terceira gestão de Lula.
Depois, quando Moro e Bolsonaro fizeram as pazes em 2022 por interesses puramente eleitorais, o então presidente desaconselhou seu ex-ministro a tentar o STF naquele momento. Em um almoço com jornalistas, revelou que disse a ele que o seu nome não passaria no Senado naquela conjuntura.
O contexto teria sido diferente caso o golpe de Estado planejado pelo ex-presidente tivesse sido bem-sucedido.
Moro poderia estar, neste momento, sentado no STF ao invés de Flávio Dino — que, nessa realidade paralela, talvez amargasse uma prisão junto com outros democratas.
Jair não morre de amores por Sergio, muito pelo contrário, mas há certos arranjos feitos exatamente para garantir que as coisas permaneçam como elas estão. E se os dois se beneficiaram daquele juiz que tirou o principal adversário do deputado federal na disputa à Presidência da Repúblicas de circulação, o que foi fundamental para elegê-lo, por que não repetir a dose?