Indicados de Bolsonaro votam contra tese golpista. Faltou 'tubaína' a Jair
Ao indicar nomes ao STF, Bolsonaro afirmava que um dos pré-requisitos era que os novos ministros dividissem uma tubaína com ele, periodicamente. Ou seja, que se mantivessem próximos. Os votos de André Mendonça e Kassio Nunes Marques negando que as Forças Armadas tenham um poder moderador mostra que faltou refrigerante a Jair
Ungidos por Bolsonaro ao STF, ambos votaram contra a interpretação golpista de que o artigo 142 da Constituição Federal confere aos militares uma espécie de direito a intervir em caso de conflitos entre os Três Poderes. Uma função de árbitro e xerife.
O julgamento no plenário virtual do tribunal, provocado por uma ação do PDT, terminou nesta segunda (8), com 11 a 0 contra essa sandice. Kassio e Mendonça endossaram a posição do relator do caso, ministro Luiz Fux, sem fazer nenhuma ressalva. Ou seja, concordam totalmente com os argumentos dados por ele.
A interpretação mirabolante é um dos pilares do golpismo bolsonarista, defendida em faixas carregadas por uniformizados com o amarelo-CBF e em orações na porta de quartéis. Vem sendo amparada por juristas alinhados ao ultraconservadorismo e à extrema direita, mas rechaçada por quem está ancorado na democracia.
"Inexiste no sistema constitucional brasileiro a função de garante ou de poder moderador: para a defesa de um poder sobre os demais a Constituição instituiu o pétreo princípio da separação de poderes e seus mecanismos de realização", disse Fux.
Segundo ele, "não se observa no arcabouço constitucionalmente previsto qualquer espaço à tese de intervenção militar, tampouco de atuação moderadora das Forças Armadas, em completo descompasso com desenho institucional estabelecido pela Constituição de 1988".
E ainda: "A Constituição prevê que a lei deve definir como crime inafiançável e imprescritível 'a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático'. Sem que se extraia do ordenamento jurídico nacional a possibilidade de uma 'intervenção militar constitucional', repudia-se o discurso que, a pretexto de interpretar o artigo 142 da Constituição, encoraja uma ruptura democrática".
Isso não significa que Kassio e Mendonça não estejam dando votos em nome de uma pena menor ou da absolvição de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 nas ações analisadas pelo STF. E, dessa forma, preparam o terreno para amaciar o julgamento de Bolsonaro — que deve subir, em breve, ao banco dos réus.
Mas a percepção de que o tribunal da História está lá, à espreita, é um excelente lembrete de que há limite para tudo.
Para Bolsonaro, que gostava de repetir que tinha parte "dele" no Supremo, referindo-se às suas indicações, não deixa de ser frustrante perceber o que todo ex-presidente já sabia: ministro indicado ao Supremo não expressa gratidão para sempre.