Leonardo Sakamoto

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Opinião

Com emprego em alta, Lula precisa baixar arroz e feijão se quiser reeleição

Com uma taxa de 6,4%, o governo Lula resvala no menor desemprego desde que começou a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) contínua em 2012. Mas para que isso resulte em votos para a reeleição, há um outro fator na equação: o poder de compra dos trabalhadores. Principalmente, o dos alimentos.

Este trimestre encerrado em setembro só perde para o encerrado em dezembro de 2013, com 6,3%. Ou seja, com as contratações de Natal, é possível que tenhamos um recorde ao final de 2024. E o PIB, frustrando as estimativas da Faria Lima, deve crescer mais do que 3%.

Mas a força de um governo não depende apenas de indicadores econômicos, pois, como disse a saudosa Maria da Conceição Tavares, o povo não come PIB. Isso alimenta outra espécie, os farialimers.

Lula conseguiu aumentar a renda média dos trabalhadores e reduzir a taxa de desemprego, mas isso pouco adianta se isso não vier com a percepção de melhora na qualidade de vida. Para tanto, o poder de compra é central para a aprovação de um governo.

Como venho repisando aqui desde o começo do ano, o motivo é o arroz e o feijão, ou seja, o preço dos alimentos que continua subindo desde o último governo.

A inflação subiu 4,42% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IPCA do IBGE, porém a alta de alimentação em domicílio foi de 6,27%. O arroz subiu 23,93% e o feijão preto, o mais consumido, 5,73%. A comida é um dos principais componentes da inflação dos mais pobres.

Discordo das análises que não consideram a percepção sobre o custo de vida como uma das questões centrais para a perda de aprovação do governo Lula e olham só para os grandes índices.

A economia melhorou no país com o governo Lula, mas isso ainda não se traduziu em um grande salto para a vida cotidiana, tal como ocorreu nos dois primeiros mandatos do petista. O que impacta negativamente sua popularidade.

Ironicamente, o bolsonarismo se esforça para tentar convencer que a picanha, usada por Lula em sua campanha eleitoral para prometer dias melhores, disparou de preço, quando, na verdade, ela subiu 1,39% em 12 meses - um terço da inflação.

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Um dos motivos para o aumento nos alimentos são impactos climáticos, com chuvas fortes no sul e estiagem severa no norte. Para além de agir para reverter os preços (investir na formação de estoque, ajudar mais os pequenos agricultores, fomentar a produção de arroz em outras regiões), o governo vai ter que mostrar ao país que a economia melhorou apesar de o bolsonarismo bater bumbo dizendo que não.

Pedir paciência que os resultados devem aparecer em breve, como sugere o próprio presidente, faria sentido com um povo bem alimentado, não um que chegou a contar 33 milhões de famintos produzidos pelo governo Jair Bolsonaro.

Como já disse aqui, Lula conseguiu ser eleito porque uma parte dos eleitores, que não são petistas, nem bolsonaristas, também acreditou em sua promessa de dias (de compras) melhores. Com picanha e cerveja, mas principalmente com arroz e feijão. Para garantir que ele se reeleja ou aponte um sucessor em 2026, os trabalhadores vão ter que perceber isso. O que passa pelo crivo implacável no caixa do supermercado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL