Trump vai devolver patriotas fujonas ao Brasil, mas acolheria Bolsonaro
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Acreditando que teriam vida fácil sob a gestão Donald Trump, três condenadas pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e uma ré com mandado de prisão entraram ilegalmente nos Estados Unidos, três delas após o início do novo governo. Presas pela imigração, agora esperam para ser deportadas, segundo reportagem de Eduardo Militão, do UOL.
Se isso acontecer, a massa de apoiadores de Jair que acredita nele deveria aprender a lição de que vem sendo usada por alguém que pensa primeiro em si, depois nele mesmo, daí em sua família e só então em aliados, amigos, parceiros e em seus seguidores. Em suma, Jair acima de tudo, Deus acima de todos.
Neste domingo, no ato na praia de Copacabana, ele usou os apoiadores presos ou processados pelos atos golpistas para justificar a aprovação de um projeto de lei de anistia que o beneficia. Se o PL excluísse a possibilidade de líderes da conspiração serem perdoados, ele teria tirado o dia de sol para andar de jet ski.
O ex-presidente, denunciado por tentativa de golpe de Estado, certamente conseguiria autorização para um asilo político em Orlando, transformando as cercanias da Disney na sede da resistência bolsonarista no exterior — mesmo com o passaporte retido pelo STF ou mesmo um pedido de extradição enviado por Brasília.
Se Washington DC não atende o pedido brasileiro para deportar Allan dos Santos, que também é foragido da Justiça, imagine se fará isso com Jair. Menos por amor à pessoa, mais pela possibilidade de fustigar Alexandre de Moraes e Lula ou mandar mensagens como: plataformas digitais dos EUA podem fazer o que quiserem em qualquer lugar ou aceitem a nossa ideologia ou pereçam.
Bolsonaro também afirmou no ato que não sairá do Brasil. Mas a robusta denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele e mais 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, apresentada ao Supremo Tribunal Federal, abre sim a contagem regressiva para a sua prisão ou fuga.
As 272 páginas trazem um amplo conjunto de evidências, descrevendo e individualizando condutas de um crime complexo que contou com várias etapas e núcleos. Frisa que a tentativa de golpe não se resume aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas começa quando Bolsonaro inicia seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro. A PGR coloca o ex-presidente como principal beneficiário do golpe, que visaria à sua manutenção no poder após ter perdido a eleição.
Diante disso, e por mais que o ex-presidente diga que não, a pergunta voltou a ser feita em círculos políticos e jurídicos: se uma condenação estiver iminente, ele tentará fugir para os Estados Unidos de Trump ou vai encarar a prisão como fez Lula, aceitando cumprir a pena enquanto tenta reverter uma decisão?
Histórico, ele tem. Diante da apreensão de seu passaporte em 8 de fevereiro do ano passado, em meio a uma operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente se refugiou na Embaixada da Hungria, governada pela extrema direita de Viktor Orbán, entre 12 e 14 de fevereiro. Muitos viram o episódio como uma espécie de test drive de fuga.
Além disso, Bolsonaro fugiu do país, em 30 de dezembro de 2022, antes mesmo de terminar o seu mandato. Diz que foi para não passar a faixa presidencial, mas o plano golpista, que, segundo a denúncia, envolveu de minuta de golpe até esquema para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, revela que ele tinha razão para temer ficar no Brasil e ser preso.
Se ele não conseguir aprovar uma lei de anistia no Congresso e se o STF não declarar essa lei inconstitucional, ele será preso. Daí, vira um ativo para a extrema direita, um mártir e contará que um de seus filhos ou Tarcísio de Freitas vença a eleição em 2026 para articular um perdão.
Contudo, se fugir, pode ser tachado de covarde. Ele tem alguns meses para pensar se prefere sua liberdade ou seu legado.
O repórter Eduardo Militão confirmou as informações sobre as brasileiras presas com autoridades norte-americanas, que afirmaram que "aguardam a expulsão para seus países de origem". Elas fazem parte do grupo de bolsonaristas que deixou o Brasil no primeiro semestre do ano passado indo para a Argentina, mas após a Justiça do país vizinho indicar que as deportaria a pedido do STF, tomaram rumo norte.
Uma decepção com Javier Milei seguida de outra com Donald Trump. Caso, enfim, percebam que foram engabeladas pelo próprio Bolsonaro em um exercício de autocrítica, podem pedir música no Fantástico.