Filho 03 de Bolsonaro faz confissão de culpa ao tirar férias do mandato
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Ao tirar licença do mandato de deputado federal através de um vídeo divulgado, nesta terça, nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro acaba chancelando a acusação de que estaria conspirando contra a democracia brasileira ao pedir ajuda a autoridades dos Estados Unidos para emparedar nossas instituições. Ou seja, ao ficar nos EUA por tempo indeterminado ao invés de voltar ao país e defender sua posição, o filho 03 faz uma confissão de culpa.
Ele faz crer que a decisão é motivada pela convicção de defender o pai e sua ideologia, mas uma análise do discurso mostra que é maior o medo de ter seu passaporte apreendido ou mesmo ser preso.
O deputado tem viajado aos EUA para pedir apoio de parlamentares trumpistas e de nomes da extrema direita na sociedade civil para evitar a punição de Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e cancelar a inelegibilidade do pai pelo Tribunal Superior Eleitoral, garantindo que ele esteja nas urnas em 2026.
"Aqui, poderei focar em buscar as justas punições que Alexandre de Moraes e a sua gestapo da Polícia Federal merecem", disse ele no vídeo.
Uma dessas ações foi a articulação para que o Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos EUA aprovasse um projeto de lei que prevê deportação e veto de entrada a qualquer estrangeiro que, na opinião do governo norte-americano, atue contra a liberdade de expressão. Na prática, a proposta foi criada para impor sanções a Alexandre de Moraes, que suspendeu plataformas digitais instaladas no Brasil que se negaram a cumprir a lei e a obedecer a Justiça em território nacional.
O projeto ainda precisa ser aprovado no plenário da Câmara e do Senado e tem um longo caminho pela frente, mas já vem sendo usado como ferramenta de discurso de bolsonaristas, do bilionário Elon Musk (que detesta Moraes devido à suspensão temporária do X por aqui) e da gestão Donald Trump (que pressiona para que empresas norte-americanas tenham privilégios em outros países).
Eduardo Bolsonaro cita cinco vezes a palavra "passaporte". Gasta boa parte do seu discurso demonstrando preocupação em ter o documento apreendido após um pedido feito ao STF por parlamentares do PT por ele estar conspirando no exterior contra as instituições. Aponta que, se isso ocorrer, ele teria limitada sua capacidade de denunciar o que chama de "crimes" do STF no exterior.
"Se Alexandre de Moraes quer apreender o meu passaporte ou mesmo me prender para que eu não possa mais denunciar os seus crimes nos Estados Unidos, então é justamente aqui que eu vou ficar e trabalhar mais do que nunca", disse.
Aquilo que é vendido como coragem e abnegação pelo deputado federal em seu discurso do Dia do Não Fico, pode vir a ser percebido como covardia pelo eleitorado não polarizado. Fugas são interpretadas como confissões.
Seu pai teve o passaporte apreendido em fevereiro de 2024 por decisão judicial. Logo na sequência, fez um test drive de fuga na Embaixada da Hungria, governada pela extrema direita, onde ficou por dois dias. Desde então, há uma aposta de que Jair pode fugir para os EUA caso venha a ser condenado.
A questão é que a atuação de Eduardo para defender Jair não deve ficar apenas na (grave) tentativa de emparedamento institucional, mas pode respingar na economia nacional. Afinal, o governo Donald Trump entende que pressão internacional se dá através da imposição de tarifas.
Se o governo dos EUA resolver usar a justificativa entregue pelo bolsonarismo para bombar protecionismo, o Brasil verá perda de receitas e de empregos devido a um grupo de brasileiros que não aceitou a derrota nas eleições e tentou um golpe de Estado.