Leonardo Sakamoto

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Opinião

Quero Bolsonaro com saúde (até para enfrentar seu julgamento e punição)

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi internado de forma emergencial no Rio Grande do Norte, consequência ainda da facada que recebeu na campanha eleitoral de 2018. Antes de mais nada, desejo a ele uma rápida recuperação e que possa desfrutar, em breve, de plena saúde. Até para ser julgado e, eventualmente, punido pela tentativa de golpe de Estado.

E, convenhamos, quem deseja a morte de outra pessoa não pode participar do debate público.

De tempos em tempos, as paredes do intestino do ex-presidente se colam como consequência do atentado, fechando a passagem de resíduos alimentares. Com isso, ele precisa de intervenção médica, cirúrgica ou não. Isso é fato. Mas também é fato que sempre que ele tem um episódio como esse, tenta explorá-lo politicamente ao máximo. Quer se colocar como a principal vítima de um tipo de violência que, não raro, ele mesmo fomenta.

Neste momento, vende-se nas redes a história de Jair Messias, "um homem que ainda sofre as consequências de se dispor a trabalhar por seu povo". O presidente mira, especialmente, o bolsonarismo-raiz, aqueles 15% da população que acreditam em absolutamente tudo o que ele diz. Esse grupo, que foi capaz até de atender a um pedido de seu líder para ajudar em um golpe de Estado, precisa ser alimentado de tempos em tempos, principalmente quando Bolsonaro é alvo de um processo no STF que pode levá-lo à cadeia.

Para tanto, é fundamental tentar manter viva a conspiração de que Adélio Bispo (seu agressor, uma pessoa que as investigações da Polícia Federal provaram ter agido sozinho e ser mentalmente transtornado) é parte de um plano maquiavélico de partidos de esquerda para destruir Jair.

Não é a primeira, nem será a última vez que Bolsonaro usa sua condição de saúde para buscar empatia da população seguindo o padrão aprendido no atentado. Expondo nas redes sociais a imagem de seu corpo em leito hospitalar e postando mensagens de caráter messiânico, ele apela para a mesma estratégia de comunicação que vem adotando desde 2018.

Um fato é o quadro de Bolsonaro, que é mais sensível devido às cirurgias abdominais pelas quais passou. Outro é o oportunismo político para usar o caso, transformando o limão em limonada.

Independente disso, e dele ter sido corresponsável pela morte de 700 mil pessoas durante a pandemia por suas ações e inações, que ele se recupere. E tenha seu dia no tribunal.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL