Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Gaza: 'Estamos sob bomba, recebendo crianças mortas', diz chefe de hospital

"Este é o segundo dia de operação militar das forças israelenses. Muitos lugares estão sendo bombardeados, inclusive abrigos. A emergência do hospital recebeu seis crianças mortas e lida com, pelo menos, 56 feridos. Estamos sob bombardeio neste momento."

A declaração foi dada à coluna por Mohammed Salha, diretor do hospital Al-Awda do campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, nesta quarta. Com o retorno dos ataques israelenses à região após o colapso do cessar-fogo entre o governo Benjamin Netanyahu e o Hamas, os hospitais voltaram a ficar lotados. Mas a pausa foi insuficiente para recuperar a capacidade de atendimento.

Desde que a trégua caiu, mais de 430 palestinos, dos quais 183 crianças, foram mortos em dois dias. Nesta quarta, as tropas israelenses avançaram sobre Gaza, retomando o Corredor Netzarim e dividindo o território ao meio, o que restringiu o movimento dos moradores.

"Há mais de 20 dias a fronteira já estava fechada e nada entrou em Gaza, nenhuma comida, medicamentos, suprimentos médicos, temos escassez de tudo. Não recebemos combustível desde então. Estamos usando pequenos geradores de eletricidade, mas precisaríamos do gerador grande da unidade a fim de atender toda a demanda. Só que não temos combustível para isso", diz Salha.

O Al-Awda de Jabalia foi a única unidade médica a continuar funcionando em meio aos ataques do Exército israelense nos primeiros 470 dias de conflito, mesmo com a falta de recursos e das ameaças, mortes e prisões de membros da equipe. O hospital também manteve operando sua maternidade, dando à luz bebês durante os bombardeios.

Ao longo do conflito, ambulâncias foram alvo do exército, que as acusava de transportarem membros do Hamas. E o governo Netanyahu insistia que as unidades médicas escondiam centros de controle do grupo extremista.

Em janeiro, antes do cessar-fogo, as Forças de Defesa de Israel chegaram a enviar um ultimato ao Al-Awda, que provocou pânico entre pacientes. "Se vocês não evacuarem o hospital, eles vão bombardeá-lo na cabeça de quem estiver dentro". A coluna havia conversado com o diretor do hospital logo após o aviso.

"Na última noite, eles bombardearam. Dois de nossos funcionários estão feridos e destruíram o reservatório de combustível, perdemos o suprimento que tínhamos recebido do hospital indonésio quatro dias antes. Agora, estamos sem combustível e sem água dentro do hospital e eles estão bombardeando muito", disse Mohammed Salha na época.

Os ataques de Israel a instalações médicas em Gaza fizeram com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas organizasse uma reunião de emergência naquele momento para pedir proteção a esses locais. A situação precária do Al-Awda foi uma das relatadas.

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De acordo com os funcionários do hospital, muitas pessoas preferiram morrer no norte e evacuar a região. Porque acreditavam que Israel estava mentindo a elas, dizendo que havia áreas seguras de caráter humanitário enquanto chegavam notícias de bombardeios em campos de refugiados no Sul.

Em 7 de outubro de 2023, o ataque terrorista do Hamas matou 1.139 pessoas em Israel, segundo dados do governo de Israel. Além de mais de 200 foram feitas reféns, que começaram a ser trocados por prisioneiros palestinos no cessar-fogo. A reação do governo de Israel foi a morte de mais de 49,5 mil pessoas desde então, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas.

"Eles bombardeiam até de madrugada, duas da manhã. A situação piora a cada vez mais, mas não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias", diz o médico.

Salha novamente pede ajuda à comunidade internacional para que o hospital continue funcionando. Antes do cessar-fogo, ele havia indicado que aquilo não era o fim de um drama, mas apenas mais um capítulo. Estava certo.

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