Clima pressiona alimentos e ameaça futuro do governo Lula
A crise climática tende a continuar fazendo com que o preço dos alimentos aumente. À medida que as temperaturas sobem, as colheitas ficam prejudicadas. O resultado é que o governo Lula deve enfrentar problemas com a inflação no bolso do consumidor até o fim do mandato, em 2026 —ano de eleição presidencial no Brasil.
Pesquisa Quaest divulgada nesta semana mostra que o aumento dos preços dos alimentos foi citado como um dos principais fatores para a avaliação negativa do governo crescer: 37% avaliam o governo de maneira negativa e 49% desaprovam o trabalho que o presidente está fazendo. É o maior índice desde fevereiro de 2023 e a primeira vez em que a avaliação negativa supera a positiva.
"A gente não sabe qual vai ser o próximo evento extremo, mas a gente sabe que ele virá, que fatalmente vai atingir uma região agrícola e causar algum tipo de alta de preço de alimento. Não precisa ser gênio para saber isso", diz Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.
Ele afirma que a combinação entre queda de popularidade do presidente e alta da inflação de alimentos e de combustíveis, associada às campanhas negativas nas redes sociais, podem resultar na ascensão da extrema direita ao Palácio do Planalto em 2026.
"Se tem uma coisa que todo governo de extrema direita tem em comum em qualquer lugar do mundo é que eles são contra medidas para combater o aquecimento global. Esses governos assumem e agravam a mudança do clima, que aumenta o preço do alimento. É uma espiral."
Enchentes e secas destroem plantações
Fábio Romão, economista da LCA 4Intelligence, diz que, apesar de o governo projetar safras recordes para arroz e soja em 2025, o preço de outros itens da cesta básica —que já estão em patamar mais alto do que antes da pandemia— deve continuar subindo neste e no próximo ano.
Em 2024, as enchentes no Rio Grande do Sul provocaram perda de safras de arroz. O governo chegou a cogitar a possibilidade de importar o produto. O cenário poderia ter sido pior se a maior parte do produto não tivesse sido colhida, diz Angelo. "Mas há propriedades rurais que não conseguem mais plantar porque o solo foi alagado, lavado pela enchente. Como isso vai impactar os preços neste ano, no próximo e nas outras safras?"
No segundo semestre, o Brasil enfrentou secas históricas, que quebrou safras de soja. Itens como café, azeite de oliva e leite longa vida também sofreram efeitos de eventos climáticos extremos no Brasil e ao redor do mundo e ficaram entre os produtos que mais encareceram em 2024.
A pesquisa Quaest mostra que, em dezembro de 2023, 55% dos entrevistados disseram que os preços dos alimentos no mercado subiram; em janeiro de 2025, essa resposta foi dada por 83%.
Além da menor oferta de alimentos e da alta do dólar, a crise do clima aumenta o custo da energia usada para a produção, que é repassado ao consumidor final.
Tanto Romão como Angelo destacam que, além dos desastres no Brasil, as temperaturas extremas destroem plantações em outros países, reduzindo a oferta dos produtos ao redor do mundo, o que faz os preços subirem.
Picanha mais cara
Para 65% dos entrevistados pela Quaest, Lula não tem conseguido fazer aquilo que prometeu.
A imagem do presidente neste quesito pode piorar caso o preço da carne suba em 2025. Durante a campanha, Lula prometeu que o brasileiro comeria mais picanha, mas a LCA 4Intelligence projeta alta nos preços da carne bovina.
Romão diz que a produção deve ser menor por causa do ciclo do abate (há menos animais disponíveis) e pela expectativa de aumento nas exportações. Com isso, a oferta será menor e o preço, maior, o que deve se refletir em outras proteínas.
"Se o preço da carne bovina sobe e o substituto é frango ou suína, esses, em alguma medida, também sobem. Difícil pensar que não vai reverberar em outras proteínas."
Inflação impactou eleição nos EUA e ajudou Trump
Em maio de 2024, o jornal Financial Times mostrou que a persistente alta nos preços nos Estados Unidos reverteu os progressos na imagem da gestão Joe Biden na economia. Em novembro, sua sucessora, Kamala Harris, perdeu a eleição para Donald Trump.
Segundo Claudio Angelo, existe o risco de Lula passar por um "processo de Bidenização": a popularidade de Biden caiu por causa da inflação.
"Dizem que, em parte, custou a eleição da Kamala", afirma Fábio Romão.
Em dezembro, o Datafolha mostrou que para 61% dos brasileiros a economia do país está no caminho errado e que o otimismo com 2025 caiu para o menor patamar desde 2020.
Governo busca solução para frear alta
Para combater o problema, a equipe de Lula estuda, entre outras medidas, reduzir o imposto de importação de alguns alimentos.
Em entrevista à Folha, o ministro Alexandre Padilha (Relações institucionais) disse que o governo reconhece o problema do preço dos alimentos na queda de popularidade e que está trabalhando com o estímulo à produção e a recuperação de estoques reguladores, além de medidas para frear a alta do dólar.
36 comentários
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Marlus Berghahn Lima
Fizeram o "L" para tirar o "B" e tomaram no "C".
Luiz Antonio dos Santos
Este governo vai acabar com a miséria, matando os pobres de fome.
Deep Produtos Naturais Ltda
Crise climática sim ... Desgoverno não... Kkkkkkkkkkkkkkk