Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Representatividade feminina importa desde que não seja Simone Tebet
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Mayana Zatz, uma das mais respeitadas cientistas brasileiras, reconhecida no exterior, acaba de fazer um manifesto feminista no Twitter.
Apóia a primeira candidatura presidencial da história do Brasil em que dois partidos grandes nomeiam mulheres para presidência e vice, uma delas tetraplégica.
Pensei que seria um furor, viralizaria imediatamente. São três mulheres respeitadíssimas em suas áreas de atuação, experientes, reconhecidas.
Mayana Zatz, uma das grandes profissionais do país apóia a dobradinha Simone Tebet e Mara Gabrilli. Por que isso não vira um furor a favor da representatividade na política?
Só existe uma explicação possível: essa história de representatividade é conversa furada que só serve quanto justifica favorecimento de amigo ou de quem tem afinidade ideológica.
Outro dia ouvi amigas desdenhando do teor "neoliberal" do programa de governo de Simone Tebet. Por essa característica, ela não teria como representar verdadeiramente as mulheres. Lula sim, ele que é feminino mesmo.
Em termos de representatividade, a campanha de Lula tem dado um destaque fenomenal a Janja. É algo que Marisa Leticia, por exemplo, jamais teve. Janja não é simples coadjuvante, temos um casal presidencial.
Já Gleisi Hoffmann, que é presidente do PT e realmente tem poder político, aparece menos do que Janja na campanha. Sinceramente pensei que as feministas petistas iriam chiar até não poder mais.
Como é que dá à mulher mais destaque do que a uma mulher que lutou anos para ter esse destaque? Não abriram a boca. Só a cientista política Juliana Fratini teve coragem de botar o dedo na ferida dia desses, numa entrevista à Rádio CBN de São Paulo.
Ela é autora do livro "Princesas de Maquiavel - por mais mulheres na política". Tive a honra de escrever um capítulo. Mulheres de todas as profissões e espectros políticos escreveram, inclusive Simone Tebet e Mara Gabrilli.
Agora é o momento de as justiceiras sociais de internet decidirem se a tese da representatividade, que defendem com unhas e dentes, é verdadeira ou apenas uma desculpa para criar uma "panelinha" de indicações pessoais.
Se a única representatividade que importa é daqueles que são meus amigos, concordam comigo e estão no meu grupo ideológico, então não importa representatividade, ela é só uma desculpa para fazer a conhecida panelinha e parecer inclusiva.
Basta aparecer uma foto de uma empresa ou grupo político em que não há mulheres para sermos inundadas com textões indignados. "Representatividade importa!", garantem.
Aliás, até autoridades embarcam nessa. Tem empresa processada porque uma foto não tem número suficiente de pessoas de algumas minorias.
E as propagandas então? Todas aquelas minorias que jamais foram incluídas pelas empresas estão representadas ali porque representatividade é a coisa mais importante.
Vemos discussões acaloradas em que adultos defendem que a arte deve vir em segundo lugar, em primeiro vem a inclusão. Cada livro de ficção ou peça de teatro precisa ter determinadas cotas de personagens de minorias.
Precisamos ter heroínas e não basta novas histórias ou antigas que não foram contadas, como da Rainha Njinga. Temos de ter algo chato do tipo Enola Holmes ou essas novas personagens de Star Wars que não empolgam ninguém. É uma luta importante, não podemos capitular.
Ter representatividade é fundamental para que aquelas minorias se vejam representadas em posições das quais são sistematicamente alijadas, garantem os justiceiros sociais.
Chegou a hora da verdade. Agora temos, pela primeira vez, uma chapa presidencial exclusivamente feminina e com uma mulher PCD em partidos grandes. De que lado fica o pessoal que defende a representatividade?
Veremos. Será o melhor argumento para debates futuros sobre representatividade.
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