O que Lula espera que a Alemanha faça sobre o caso Alexandre de Moraes?
Seria interessante saber o que exatamente o presidente Lula pretende que a Alemanha faça com o suposto agressor de Alexandre de Moraes. É importantíssimo lembrar que o ministro do STF parece calado sobre o assunto. Enquanto isso, Lula faz manifestações cada vez mais radicais sobre o tema.
Na semana passada, usou e abusou do "dog whistle" para seus seguidores mais radicais. Pode ter sido proposital ou mero acaso, impossível saber. Apoiado no episódio ainda não esclarecido no aeroporto de Roma, mandou expressões que a militância radical entende muito bem. "Animais selvagens", "não são humanos" e "extirpar" são expressões que, proferidas por um líder político, têm potencial para inflamar seus seguidores mais radicais.
Obviamente isso aconteceu e claro que o silêncio da comunicação petista é eloquente. Imediatamente após a declaração, blogs amigos e perfis radicais nas redes usaram o ferramental clássico do radicalismo político digital para perseguir e tentar calar críticos do governo.
O mais presente é o bullying digital, uma tentativa de assassinato de reputação que energiza bastante massas de manobra ressentidas. Os alvos são escolhidos e então blogs amigos ou perfis proeminentes lançam o primeiro ataque. Tem de ser algo fácil, um texto pronto ou um print.
Isso se distribui em grupos de WhatsApp e Telegram incentivando que pessoas com vidas tristes postem isso para se sentir importantes, imaginando que feriram ou incomodaram o alvo, alguém visto como inatingível. São grupos conectados emocionalmente que usam o vocabulário político, algo que se tornou um clássico no trumpismo e ganhou o mundo.
Na última sexta, Lula fez um discurso falando em respeito. Aliás, foi o melhor discurso de seu mandato. Ao tocar no tema delicado das armas, conseguiu sair da polarização e do fetichismo, evocar a importância da família e da normalização das relações sociais. Esse recado, no entanto, não chegou à militância radicalizada, que prosseguiu no esporte do bullying digital o final de semana todo.
Vale ressaltar que não são militantes reais, já que o militante político cria pontes para promover transformações políticas. Os radicais de internet tomam emprestado o discurso político para promover bullying e queimar pontes, uma ação que só é útil para tentar calar pessoas.
A declaração intrigante do presidente Lula validou o que esses grupos digitais têm feito no mundo todo e que nada tem de democrático.
"Quando você entrar em um restaurante e tiver uma pessoa que não gosta de você, ótimo, ela não é obrigada a gostar, mas não é obrigada a te xingar, não é obrigada a te ofender, como aconteceu esses dias com o Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, que um canalha não só ofendeu ele, como bateu no filho dele. Não sei se você sabe, Moisés (presidente do Sindmetal ABC), esse cara (o suposto agressor) era um empresário de uma empresa alemã. Eu entreguei o nome dele para o chanceler alemão.", disse o presidente do Brasil.
Juristas já levantaram diversas dúvidas sobre a condução do caso pelas autoridades brasileiras. A ser verdade, a atitude do presidente da República vai a um patamar completamente diferente. As autoridades do país que ele governa ainda não elucidaram o caso. O suspeito não foi declarado culpado.
O presidente da República de uma democracia, tal qual tuiteiro radicalizado, foi se informar sobre o emprego de um cidadão metido em encrenca, verificou a nacionalidade da empresa e resolveu acionar o governo daquele país. O que Lula espera que a Alemanha faça sobre o caso?
Para muita gente, parece natural pensar que se espera uma ação do governo para conseguir que a empresa alemã demita o brasileiro. Vale perguntar se o governo brasileiro interferiria em empresas privadas daqui, buscando a demissão de um cidadão estrangeiro que nem condenado foi em seu país.
Dizem por aí que a grande mudança democrática é quando um país sai do "sabe com quem está falando?" para "quem você pensa que é?".
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