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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Delinquência bolsonarista é o suicídio da direita no Brasil

Colunista do UOL

09/01/2023 09h48

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Os delinquentes fantasiados de manifestantes que promoveram o terror em Brasília e continuam aterrorizando nos Estados dizem ter alvos certos. São, no entanto, bem ruins de mira, quiçá craques mesmo em tiro pela culatra.

Vociferam ser contra o governo Lula, argumentam que não aceitam um ladrão na presidência da República. Outro alvo é o STF, muitas vezes personificado no ministro Alexandre de Moraes, o "Xandão". A Suprema Corte, aliás, virou mais inimiga de Bolsonaro na fantasia que ele próprio criou do que seus adversários políticos.

A turba terrorista pode ter o alvo que quiser, nada será mais repugnante do que ela própria, se mostrando do jeito que é. Estamos diante do suicídio da direita brasileira.

Vi muita gente argumentando que movimentos de esquerda também invadiram o Congresso Nacional e depredaram prédios públicos. É verdade, mas não são eventos comparáveis.

Uma coisa é um movimento de determinada vertente política ter sua própria pauta e partir para o vandalismo e ignorância. Outra, bem diferente, é a representação de uma força política que chegou à presidência da República fazer isso diante do inconformismo com a alternância de poder.

Dilma sofreu impeachment, Lula foi preso, Haddad foi tratorado nas urnas duas vezes pelo bolsonarismo, uma pelo próprio Jair Bolsonaro e outra por Tarcísio de Freitas. Teve gente descontente, gritaria, chilique de rede social, um mundaréu de coisas. O que não teve é o espetáculo dantesco que só o bolsonarismo nos proporcionou.

As cenas deste domingo são difíceis de digerir porque custa entender que ali são pessoas, gente como nós, de carne e osso, que tem família, amigos, emprego. Quando a gente vê, não parece. Dá a impressão de que estamos diante de algo diferente, desumano, maligno.

Um grupo que se diz patriota resolve atacar os principais símbolos de poder do nosso país. O pior é que consegue. Não estamos falando de gente com treinamento militar, mas de vândalos que se comportam como um possuído pelo demônio em filme de terror.

Isso já acendeu o alerta sobre a participação - ou apagão - das forças de segurança. Não é admissível que o Gabinete de Segurança Institucional e a ABIN não tenham alertado para a invasão dos principais símbolos do poder político e institucional do país.

Pior ainda é a atuação inexplicável da polícia do agora afastado governador do Distrito Federal. Ele já deveria ter respondido pela leniência no dia da diplomação do presidente Lula, em que delinquentes bolsonaristas incendiaram Brasília e ninguém foi preso.

Quem conhece Brasília sabe que nem aquela Jonestown tupiniquim nem o Capitólio brazuca seriam possíveis sem a omissão completa das forças de segurança. Estamos diante de um projeto arquitetônico único, que não tem rua para onde correr. Houve leniência ao incendiarem a cidade e houve leniência também ao tomarem os prédios simbólicos das cúpulas dos Três Poderes.

No momento, o governador, seus secretários e as cúpulas da segurança estão sob escrutínio. Há ainda um outro desafio, o de entender o impacto da seita bolsonarista nas baixas patentes.

Tenho alertado, junto com diversas outras vozes, sobre o impacto do olavismo nas polícias e Forças Armadas. Em 16 de setembro de 2019, Olavo de Carvalho tornou todos os seus cursos gratuitos para militares de todo o Brasil. Basta enviar a identidade militar para fazer parte do movimento, que se assemelha a uma seita. É algo largamente subestimado até hoje, mas já mostra resultados nefastos.

Não há dúvidas de que a primeira chama do bolsonarismo foi a reação a uma esquerda sectária. André Janones, por exemplo, já está falando em guerra civil para combater o banditismo bolsonarista e defende "mandar essa raça maldita de volta para o esgoto".

Ainda não sabemos como a esquerda vai lidar com os radicais que incorporou ao lulismo, mas já sabemos como a direita lidou com os seus. A violência da turba bolsonarista só extrapolou da internet para a vida real graças ao silêncio, à leniência e à permissividade da direita e dos conservadores. Foi um movimento suicida.