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Marília Mendonça: "The Morning Show" dá lição sobre como noticiar uma morte
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Em maio de 1897, correu um boato entre jornalistas de que o escritor Mark Twain (1835-1910) estava morto ou morrendo de uma doença grave. Em busca de confirmação, o jornalista Frank Marshall White, do "New York Journal", procurou Twain, que estava em Londres, para confirmar se havia alguma verdade nos boatos. Bem-humorado, o escritor respondeu numa carta: "A notícia da minha morte foi um exagero".
Uma outra versão desta história é que um jornal americano, considerando que Twain havia morrido, publicou o obituário (um texto rememorando a vida e a carreira) do escritor. Ao saber disso, Twain disse: "Os relatos de minha morte são muito exagerados". E há ainda a versão de que a frase foi: "Os relatos de minha morte foram muito exagerados".
Qualquer que seja a versão correta, o que esta história mostra é que noticiar a morte de alguém é uma tarefa delicada, que exige enorme cuidado. Sendo a pessoa famosa ou não. Todo jornalista sabe disso, e não é de hoje. E, mesmo sabendo, vários erros já foram cometidos.
Um procedimento comum é só publicar a notícia da morte após confirmação com uma fonte familiar ligada diretamente ao morto (pai, mãe, esposa, filho). Outra opção é recorrer a uma fonte oficial (hospital, polícia, necrotério etc). No caso de pessoas famosas, assessores de imprensa e empresários são considerados fontes confiáveis também.
No episódio mais recente da série ficcional "The Morning Show" (Apple TV +), os jornalistas de um canal de televisão americano recebem a informação de que uma pessoa famosa morreu. O procedimento adotado pela empresa é só noticiar após conseguirem a confirmação com duas fontes diferentes.
Uma parte importante do episódio gira em torno do esforço dos jornalistas de um programa matinal deste canal para conseguirem esta dupla confirmação e darem a notícia antes de todos os concorrentes. Spoiler: eles conseguem.
Fiz esta longa introdução para comentar uma questão que incomodou muitos leitores no texto que publiquei na sexta-feira (05) sobre como a mídia noticiou a morte de Marília Mendonça. Observei que a assessoria da cantora causou enorme confusão, durante uma hora, por ter divulgado a informação errada de que todos haviam sobrevivido ao acidente e estavam no hospital.
Ouvi de muitos leitores que o erro se justifica. Eles acham que não seria justo familiares de Marília tomarem conhecimento da morte da cantora pela mídia. Ou acham que, no calor dos acontecimentos, transmitir uma informação errada era o que menos importava.
Concordo que a preocupação em informar familiares antes de mais nada é correta (essa questão também é tratada no episódio de "Morning Show" que citei). Por isso, em situações como essa, a fonte oficial pode se abster de informar (dizer que não sabe ou que não pode passar informações).
O que o leitor talvez tenha maior dificuldade de entender é que, para um jornalista, não existe nada pior que uma fonte oficial transmitir uma informação errada. Isso não pode.
Este problema está diretamente ligado a um outro que temos enfrentado: a difusão de fake news por autoridades. Por que isso é tão grave? Porque estamos acostumados, habituados e até treinados a considerar que fontes oficiais sabem que não podem mentir. Quando fazem isso, elas ajudam a quebrar a confiança do leitor/espectador em quem difunde a falsa informação.
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