Topo

Mauricio Stycer

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

"Boca Fechada": Assassinato de jornalistas ocorre mais em cidades pequenas

O radialista Gleydson Carvalho foi morto com três tiros em 6 de agosto de 2015, em Camocim, no Ceará - Reprodução
O radialista Gleydson Carvalho foi morto com três tiros em 6 de agosto de 2015, em Camocim, no Ceará Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

08/02/2022 07h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Brasil integra a triste estatística de estar entre os dez países que mais mata comunicadores no mundo. Entre 1995 e 2018, 64 profissionais da comunicação foram assassinados no país. Na América Latina, só o México é mais perigoso para o exercício do jornalismo.

Esses números ganham rostos no documentário "Boca Fechada", de Aquiles Lopes e Marcelo Lordello, lançado no final de janeiro e disponível em plataformas de streaming (Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play).

Ao reconstituírem os assassinatos dos radialistas Israel Silva, Jairo de Sousa e Gleydson Carvalho, respectivamente, em Lagoa de Itaenga (PE), Bragança (PA) e Camocim (CE), Lopes e Lordello apontam um padrão de violência contra jornalistas: os crimes em cidades pequenas, onde os profissionais estão em situação de vulnerabilidade maior.

Não por acaso, quanto menor a cidade, mais importante é o trabalho do jornalista como fiscal e investigador. E as estatísticas confirmam: seis em cada dez crimes contra comunicadores ocorreram em cidades com menos de 200 mil habitantes.

Os três assassinatos revisitados em "Boca Fechada" apresentam características comuns. Foram cometidos contra radialistas destemidos, que denunciavam com insistência e estridência casos de mau uso de dinheiro público por políticos. Todos, aparentemente, foram "crimes de mando", encomendados a matadores de aluguel.

"As pessoas antes tentavam comprar (os jornalistas). Agora, não. Elas removem o problema. Que jeito? Mandam matar", diz um dos entrevistados, Felipe Gilé, do Sindicato dos Jornalistas do Pará.

Uma das consequências da violência e da impunidade, como mostra o documentário, é a intimidação. Outros radialistas entrevistados deixam claro que não desejam ter o mesmo fim que seus colegas e adotam tons mais leves em seus programas.

Veja um trailer do documentário: