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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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Record não explica por que Bolsonaro chamou ultra-direitista Orbán de irmão

O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán - Foto: Reuters
O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán Imagem: Foto: Reuters

Colunista do UOL

17/02/2022 21h56

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O presidente Jair Bolsonaro chamou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, de "irmão" nesta quinta-feira (17) em Budapeste. Foi o momento mais surpreendente e significativo do encontro entre os dois. Por que isso ocorreu? Por que o presidente brasileiro chamou de "irmão" um líder político de extrema-direita, que aplica políticas de perseguição a minorias e imigrantes e interferiu no Judiciário?

Essa foi a principal missão dos jornalistas brasileiros que acompanharam o encontro e dos telejornais que relataram os acontecimentos: apresentar o contexto da fala do presidente brasileiro. Até mesmo canais alinhados com Bolsonaro, como o SBT, apresentaram didaticamente a "ficha" de Orbán. Só a Record não deu qualquer explicação.

O "Jornal da Band" lembrou que Orbán é "considerado um dos líderes da extrema-direita na Europa". Ele está no poder há 12 anos "com um discurso nacionalista e contra imigrantes". Como disse o repórter Sergio Gabriel, "foi um encontro entre dois líderes que não esconderam as afinidades".

No "SBT Brasil", o repórter Sérgio Utsch chamou Orbán de "primeiro-ministro ultra-direitista". Lembrou que "as políticas de perseguição a minorias e a intervenções na imprensa e na Judiciário isolaram a Hungria na Europa". Disse que Orbán e Bolsonaro "têm muito em comum, a começar pela dificuldade de trânsito político no bloco europeu". E lembrou o caráter político-eleitoral do encontro. "É a pauta conservadora que mais une Bolsonaro e Orbán e é nela que os dois apostam para permanecer no poder. Os dois acenaram para os seus eleitores".

O "Jornal Nacional" disse que Orbán é "conhecido no mundo inteiro pelos ataques a pilares da democracia". A repórter Bianca Rothier registrou que ele está "há 12 anos seguidos no poder" e "é conhecido por perseguir a imprensa, interferir no Judiciário e criar leis para restringir os direitos de imigrantes e homossexuais"

O JN foi o único telejornal que explicou o significado das palavras ditas por Bolsonaro como valores em comum com a Hungria de Orbán: "Deus, pátria, família e liberdade". Disse o telejornal: "Não foi a primeira vez que Bolsonaro usou o lema que tem origem no fascismo italiano, também usado no Brasil pelo movimento integralista e em Portugal pela ditadura salazarista. Na citação de hoje Bolsonaro acrescentou a palavra liberdade".

O "Jornal da Record", como tem sido frequente, protegeu Bolsonaro. O telejornal não deu qualquer explicação ou contexto para o que ocorreu no encontro. Apenas disse que o presidente brasileiro chamou o primeiro-ministro húngaro "de irmão pela afinidade entre os dois". Quem se informou apenas pelo telejornal não deve ter entendido a razão desta "irmandade" entre os dois políticos.